terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Terceiro relato anônimo



Acho que eu já tinha crises de Ansiedade desde criança e não sabia exatamente o que era. Lembro de algumas vezes em que dormi no sofá e, quando meus pais me acordavam pra ir pra cama, eu sentir uma tremedeira, moleza nas pernas, coração disparado e vontade de sair correndo. Sair dali e ir a um lugar que estivesse no tempo e espaço para relaxar minhas pernas adormecidas.
A Ciência explica que a ansiedade nada mais é do que um estado natural do corpo. E, como quase tudo que ainda nos é intrínseco, herdamos da época das cavernas. Afinal, taquicardia nada mais é do que o coração bombeando mais sangue para as suas extremidades (lembra da tremedeira nas pernas?), e o suor já antecipam o resfriamento do nosso corpo quente de tanto esforço físico. Naquela época, corríamos de predadores, saíamos na porrada com outros homens, fugíamos de desastres naturais. Hoje, vivemos em uma selva, diferente e igual em muitos aspectos. E a Ansiedade aparece, deste jeitinho sorrateiro, o que faz com que ela tenha nome de gente pra mim, com primeira letra maiúscula e personalidade. Tem vezes que ela dá sinais que vai aparecer e noutras surge de supetão. 
Já cheguei a sentar na calçada durante uma crise de Ansiedade em público e ter de esperar passar. Já fingi que estava tudo bem, respirei fundo e voltei a trabalhar (porque Ansiedade, psicólogo e psiquiatra "são coisas de gente louca"). Já desembestei a comer três sorvetes, duas barras de chocolate e um litro de achocolatado em menos de cinco minutos. Mas, apesar de tudo isso, já procurei relaxar muitas utras tantas e esperei passar. Porque a gente sabe que ela vai embora. 
Nunca fui a psiquiatras. Nem na época da depressão forte. Quis atingir meu limite e tentar sair por conta própria. Me testei, descobri que o fundo do poço tem subsolo e que dali de dentro, só tem um jeito de sair: voltando à superfície. Descobri a razão da minha depressão; já a da minha Ansiedade estou esperando a resposta até hoje. 
Mas a vida segue, independente de tantos apesares. 'Rabbit Hole', escrito por David Lindsay-Abaire, me ensinou que as mazelas da vida são como tijolos que a gente leva nos bolsos: pesam, uns dias mais e noutros menos, mas não nos impedem de continuar a caminhada. 
Somos uma geração ansiosa, onde a pressão para ter sucesso em todas as áreas da vida é muito forte: carreira, família, vida amorosa, amigos, aparência, inteligência e ________________ (adicione a sua 'preferida' aqui). 
Para tratar minhas crises, então, recorri à Passiflora. Amigos já disseram que "nem me fez cócegas de tão fraco", enquanto outros agradeceram a dica. Fitoterápica, de baixíssimo custo e, no meu caso, resolveu. Três comprimidos ao dia e, conforme as crises foram diminuindo no decorrer das semanas, também foram reduzidas as doses. Hoje em dia - e isso já faz uns três anos - as crises são raríssimas. Talvez duas ou três ao ano. E geralmente dão sinais, então sempre tenho Passiflora aqui pra já expulsar a Ansiedade quando ela toca no meu interfone. Porém, acho super válido ir atrás de ajuda profissional se você ainda não encontrou sua calmaria. 
Certo dia, um amigo me disse que cerca de 30% do que acontece na vida permite nossa intervenção. Os outros 70%, diz ele, "a gente joga pro Universo". Tomei como lema. Faço a minha parte e deixo o resto fluir. 
A vida segue. E o tempo, maturidade e experiência fazem o que lhes cabem para que possamos viver toda essa loucura com o mínimo de sanidade.  

L.F., sexo masculino.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Diário da ansiosa – Andamento do tratamento


Desde o retorno ao psiquiatra não falo do meu progresso. Correria, pouco tempo, muito trabalho, enfim, seguem algumas considerações:

- As pontadas no corpo desapareceram, dormências e sensações de queimação nos pés e nas mãos também passaram (as chamadas parestesias). 
- As moscas volantes estão aqui ainda, mas estão mais raras, não as vejo o dia todo mais. Vejo somente quando há muita claridade e, ainda assim, não é sempre. 
- As tonturas melhoraram. Não posso dizer que sumiram de vez, porque vez ou outra, me pego flutuando por aí. Acredito ser efeito da minha hipoglicemia, porque acontece geralmente quando estou há um tempo sem comer. 
- As dores nas pernas, a perna puxando, também sumiram. De vez em quando sinto algo, mas acredito ser efeito da carga intensa de exercícios que faço diariamente.
- A falta de ar não está presente na maior parte do tempo. Ela aparece mais quando deito para dormir e começo a pensar a existência do universo.
- TOC e pensamentos obsessivos: quase zerados. Ainda continuo obcecada por limpeza, mas tenho tido momentos racionais e de muita lucidez, rs.
- Um pouco de insônia durante à noite, pesadelos continuam. Comprei o tal filtro dos sonhos para ver se melhorava, melhorou bem pouco. Talvez seja psicológica a melhora.
- Sono, MUITO sono durante o dia. Mesmo tendo dormido durante à noite. Sono de dormir em pé. Não é uma leve sonolência, é quase uma narcolepsia. Não me sinto cansada, consigo fazer mil coisas durante o dia, mas esse sono... Esse sono eu não tinha na minha época ansiosa, então acredito ser efeito do remédio mesmo. Na bula consta "sonolência". Mas entenda como "não conseguir ficar acordada de pé de manhã no metrô".

Hoje tenho retorno no Endocrinologista. Ele vai pedir exames novamente para ver se o remédio alterou alguma coisa e se minha vitamina D voltou ao normal, checar minha glicemia etc. Vou pedir um encaminhamento para a nutricionista, agora que entrei na linha, estou pronta para minha dieta para hiperinsulinêmicos HARD. (Mas sem Glucerna, por favor) – depois explico aqui o que é o tal do Glucerna.

O remédio só tem feito coisas boas por mim, apesar dos efeitos colaterais, que agora estão mínimos. Acredito ter que tomar por uns seis meses e fazer redução gradativa da dose. O Buspirona causa dependência zero. O escitalopram causa alguns efeitos no desmame, os mesmos que apresentamos quando começamos a tomar. Mas não estou preocupada ou desesperada.

O meu pessimismo, apesar de sempre presente, também diminuiu. Mas a ansiedade diante de circunstâncias e eventos ainda é ENORME. Dessas incontroláveis de roer unha, osso, tendões... Acho que essa mesmo não tem cura, apesar de exercermos um certo "controle". Controle entre aspas mesmo, porque só aparentamos estar controlados, quando, na realidade, estamos em enlouquecidos por dentro.

Vou pedir uma guia para consulta com Psicólogo. Quero ver se com a terapia, futuramente, o desmame do remédio fica mais fácil.

Meu conselho para quem tem ansiedade: nenhum. Quem tem ansiedade não ouve conselho. Se ouve, é momentaneamente, logo o TOC faz os pensamentos obsessivos voltarem. Mas se pudesse falaria: não se desespere, tudo, tudo vai passar. :o)

Beijos e até a próxima!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A nossa mudança é intrínseca

Sumi por conta de trabalho e mais trabalho, pensei em mil coisas, mas decidi começar por esta: o autoconhecimento.


O processo de autoconhecimento é interminável, mas é necessário que tenhamos essa consciência. Conhecer a si mesmo e seu próprio corpo é essencial para a melhora progressiva de doenças psicológicas, transtornos mentais e afins. A verdade é que, embora o exterior contribua para nossa melhora ou piora, somente nós mesmos podemos melhorar efetivamente. Porque é através do nosso interior que enxergamos o mundo e a ele damos nossa impressão. O primeiro passo para a melhora é tentar, aos poucos, tornar-se independente do exterior, do que ocorre a você, das pessoas que te cercam. Tornar-se independente não significa tornar-se insensível. Significa ser feliz apesar de, sem depender de um fato específico, uma palavra, um ato, um acontecimento. E isso só alcançamos quando atingirmos a plenitude dentro de nós mesmos. Isso não significa que ficaremos blindados a fatos externos, mas que saberemos lidar muito melhor com as adversidades. 
Uma prova de que a nossa mudança é intrínseca é como as coisas que mais gostamos ficam sem graça quando temos depressão. As pessoas, que usualmente são apegadas a circunstâncias e coisas, sugerem que saiamos, encontremos alguém para nos relacionarmos, façamos algo que gostemos, mas não é simples assim. Não é simples porque o processo é interno e não externo e, a partir do processo de conhecimento, começamos a entender que a mudança depende de nós mesmos. E, sendo assim, o exterior só irá ser uma soma ao conhecimento, sem fazer com que pioremos de forma drástica. 
Quem tem depressão e já ouviu ou leu coisas do tipo: "É frescura!", "Mas você tem tudo", "O que te falta?" e, na sede de preencher essas lacunas, as pessoas jogam mais coisas nas nossas costas: um relacionamento, um emprego, um filho, um casamento, uma mudança de visual. Coisas que elas consideram imprescindíveis para a felicidade mas que nada são se estivermos mal por dentro. Então, a primeira coisa que devemos tomar consciência é de que é necessário tentar nos conhecermos, é necessária uma constante evolução, porque não existe um ponto final: pronto, cheguei aqui e agora sou 100%, porque ninguém é 100%. É uma busca incessante, muitas vezes dolorosa, mas extremamente necessária. 
Terapia é uma boa opção, caso você se sinta muito confuso. Ajuda é sempre bem-vinda. 
Muitas vezes as pessoas falam coisas que nos afetam de forma profunda e às vezes nem sabemos por quê. Essas coisas levam ao agravamento da depressão, da ansiedade e de outros transtornos. Ao nos conhecermos melhor, esse obstáculo é ultrapassado com mais facilidade, porque conhecimento leva à segurança, à perda do medo. 
Não deixe que fatores externos interfiram negativamente no seu interior, confie em você. Sempre.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Sonhos, pesadelos e paralisia do sono

Não tenho tido tempo de escrever aqui por conta dos trabalhos (não só da pós), como dos freelas que tenho feito à parte. Mas hoje, parei especialmente para falar dos sonhos.


Sonhar com cobra é traição. Com dente, morte. Com água, lágrimas. Sonhar com morte é sorte. E mais diversas outras interpretações e superstições. Salvador Dalí pintava seus sonhos de maneira surreal. Freddie Krueger invadia o sonho de adolescentes para atacá-los durante o sono. 

Mas a verdade é que o sonho mais tem a ver com nosso inconsciente, nosso estado de espírito, do que com premonições, interpretações e afins. 

Um dos efeitos colaterais do Escitalopram é ter sono perturbado, com sonhos vívidos. Mas um dos sintomas da ansiedade é transportar as preocupações para a hora de dormir. Pesadelos e mais pesadelos. De coisas que tememos, de coisas que não fazem o menor sentido. Em sua maioria, surreais. Como os quadros de Dalí.

Sempre fui muito ansiosa e sofri com pesadelos, desses de você ficar mal o dia todo. Mas, nas últimas semanas eles se intensificaram. O sono já estava péssimo, pois só vinha de dia, agora, então, acordando toda hora assustada e passando o dia sob o efeito do pesadelo, piorou. Quando não tenho pesadelos, tenho sonhos extremamente surreais, sem sentido.

Tive, por muitos anos, paralisia do sono. É terrível, é sufocante, é uma sensação inexplicável. Você fica preso no seu corpo, sem conseguir se mover, falar, fazer nada, mas consciente que está ali. Imagino como deva ser a vida dos portadores da síndrome do encarceramento. E, após muitos anos sem sofrer disso, essa semana tive duas vezes. Acordei sem conseguir me mover, com as lembranças muito claras do pesadelo que havia tido. Foi péssimo. 

Não quero tomar remédio para dormir, mas parece que terei que recorrer a métodos naturais, chás e afins. 

O uso de antidepressivos no Brasil cresceu 44% conforme recente matéria publicada no G1. Não quero aumentar ainda mais as estatísticas, tomando, junto com um ISRS (inibidor da recaptura de serotonina), um benzodiazepínico (ansiolítico tipo Rivotril, Valium, Lexotan), que, além de ter efeitos colaterais, são medicamentos que causam dependência.

Como é difícil a vida de um ansioso. E o pior: sem o sono em dia, a gente não vive, sobrevive!

Fiquem com essa cena maravilhosa de "Sonhos", do Kurosawa.



quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O sono nosso de cada dia


Há alguns dias, alguns sintomas que tinham amenizado, meio que voltaram em intensidade menor e de maneira inconstante. Tive algumas tonturas, leves, parestesias (pontadas no corpo e sensação de queimação nas pernas e nas mãos), visão levemente turva em algumas situações. Mas estou melhor, apesar de tudo ser muito inconstante, não estou pirando achando que estou morrendo, mesmo porque, alguns dos sintomas só apareceram depois que comecei a tomar o remédio (nem tudo são flores!). 
Mas, um efeito que surgiu há mais ou menos um mês e que não tem me deixado trabalhar direito é: O SONO. Eu costumava dormir poucas horas por noite e passar o dia todo revisando, às vezes batia o sono, mas logo melhorava, não era uma coisa descontrolada. Agora me pego dormindo sem querer, pescando, durmo sentada, de pé no metrô, só me falta dormir andando. "Ah, mas é porque você toma o remédio de manhã". Engraçado que, quando tomo à noite, ele me tira o sono. Fico virando de um lado para o outro e tendo sonhos esquisitíssimos e mais surreais do que nunca. Pior: mesmo passando a maior parte do dia com sono, ainda não consigo dormir a noite inteira. Fico acordando com qualquer mínimo ruído e não durmo mais (vide pássaros também).
Não posso chamar de insônia, porque eu tenho sono, só não consigo dormir tranquilamente, me viro de um lado para o outro, as pernas ficam inquietas, parece um acúmulo de energia que não gastei, mas isso me intriga porque eu não paro o dia inteiro! Não como carboidratos muito tarde e muito menos açúcares (esses eu praticamente cortei). 

E agora, José? 

E aí, como está o sono de vocês?

terça-feira, 10 de novembro de 2015

A prescrição inconsequente de ansiolíticos e antidepressivos

"Segundo a Anvisa, o consumo brasileiro do princípio ativo do Rivotril, o clonazepam, em 2007 era de 29 mil caixas por ano. Em 2015, este número atingiu os 23 milhões, de acordo com a IMS Health. O crescimento significativo em pouco tempo desperta as suspeitas de uso excessivo e desnecessário por parte de especialistas."

Carta Capital, novembro/2015

Sabe-se que o índice de pessoas que apresentam transtornos como o de ansiedade ou o depressivo aumentou progressivamente ao longo dos anos, principalmente nas grandes cidades. O que consequentemente aumentou o uso de ansiolíticos, especialmente benzodiazepínicos, como Clonazepam (Rivotril®), Diazepam (Valium®), Alprazolam (Frontal®), Bromazepam (Lexotan®) entre outros. Esses tranquilizantes são conhecidos por causarem dependência. Hoje, existem no mercado drogas eficazes para o tratamento dos mesmos tipos de transtorno com menos efeitos colaterais e resultados satisfatórios e com pouca ou quase nenhuma dependência. Ainda assim, é preciso ficar alerta e, muitas vezes, procurar mais de um especialista até se ter certeza de que é realmente necessário o uso de antidepressivos, ansiolíticos e afins. 
Como hoje se tornou comum ver pessoas ansiosas, com transtornos de ansiedade ou não, profissionais de saúde têm receitado indeliberadamente remédios controlados, que, se forem prescritos sem uma análise mais profunda do caso, podem até prejudicar o paciente. 
Psicólogos defendem que muitos desses transtornos podem ser tratados, embora a longo prazo, com a correta terapia. Mas, em entrevista com uma psicóloga, ela disse garantir resultados, ainda que amenos, no primeiro mês de tratamento. Contudo, a terapia, sozinha, parece não se mostrar eficaz em algumas pessoas, principalmente naquelas em que o transtorno já persiste há muito tempo. A indicação, para esses casos, é unir ambas terapias, tendo cautela com a terapia medicamentosa.
Um dos medicamentos mais prescritos para ansiedade é a Fluoxetina (Prozac®), que causa dependência moderada, ficando o paciente sujeito a sintomas desagradáveis no desmame. Um concorrente, a Sertralina (Zoloft®), causa menos dependência, e efeitos semelhantes. Drogas mais recentes no mercado como Citalopram (Procimax®) e Escitalopram (Lexapro®) são conhecidas por causarem menos efeitos colaterais e dependência mínima, contudo, muitos pacientes têm experiência de diversos sintomas colaterais, principalmente no início do tratamento e quando o tratamento é interrompido.
Portanto, não existe droga 100% segura. É necessário testar as diversas abordagens antes de partir para a terapia medicamentosa, que é recomendada em último caso, quando mais nada pareceu fazer algum efeito. A terapia medicamentosa mostra-se muitas vezes eficiente, promovendo a cura definitiva e melhora de qualidade de vida do paciente durante e após o final do tratamento. Contudo, em se tratando de drogas que afetam o sistema nervoso, é preciso ter cuidado ao utilizá-las indeliberadamente.
Não deixe que profissionais que não tratam de saúde mental prescrevam medicamentos ou deem diagnósticos de transtornos, como o de ansiedade. Clínicos Gerais, Plantonistas e Emergencistas NÃO podem dar diagnósticos definitivos sobre a sua saúde mental. Endocrinologistas tratam de transtornos HORMONAIS e não podem dar diagnósticos definitivos. Assim que profissionais de outras áreas sugerirem que você tem ansiedade ou depressão procure um PSICÓLOGO e um PSIQUIATRA. E o mais importante: NÃO SE AUTOMEDIQUE. Se um medicamento não funcionar (é necessário esperar, ao menos, 20 dias para que faça algum efeito), o profissional adequado escolherá outra terapia ou outro medicamento mais condizente com o seu problema. NÃO PARE DE TOMAR POR CONTA PRÓPRIA. Medicamentos para saúde mental podem causar efeitos colaterais por todo o corpo, crises de pânico, ansiedade, parestesias, tremores e tonturas. 

sábado, 7 de novembro de 2015

O lado bom da vida

Eu sei, é difícil.

As coisas passam tão rápido. A cada dia uma coisa nova. Ruim. Tantas adversidades que a chamamos de lunático quem opta por ver o lado bom das coisas, porque na maioria das vezes não conseguimos enxergar. A quem tem algum transtorno, então, como depressão ou ansiedade (ou os dois) essa prática é dada como impossível. A solidão passa a ser nossa melhor companheira, ainda que tenhamos pessoas nos apoiando, mostrando que estão lá para nós, nos sentimos sozinhos e, muitas vezes, por opção, por desanimarmos quando as pessoas parecem simplesmente não entender que a depressão não depende de coisas extrínsecas, que, apesar de ficarmos piores quando coisas ruins acontecem, não significa que as coisas boas nos trarão à tona.

Mas gostaria de propor algo diferente. Apesar de ser realista de natureza, pessimista de nascença e gostar de causar choques de realidade nas pessoas, para que elas enxerguem que ao final do arco-íris não há potes de ouro, hoje quero fazer outro choque de realidade. Em tempos de tantas tragédias, guerras, fome, injustiça, violência, tristeza, coletiva, individual, é preciso enxergar com olhos especiais. Há pessoas com problemas maiores, há pessoas com problemas menores, mas somente quem veste a situação sabe o que é estar nela, essa é a beleza da relatividade. Somos diferentes. Sofremos. Mas o bom e velho Adoniran já dizia algo que, como incrédula, agnóstica, pego como metáfora: "Deus dá o frio conforme o cobertor". As forças surgem de onde menos esperamos e quando mais precisamos. Caímos e levantamos quantas vezes for preciso. 

Portanto, hoje queria despertar esse enxergar especial em todos que tiveram anos, meses, semanas, dias difíceis. A todos que optaram por tentar ver o lado bom da vida. A todos que não conseguem ver esse lado. 

Helen Keller (deficiente visual e auditiva desde a infância, escritora e advogada) fez um texto dizendo o que faria se pudesse ter três dias para ver. O texto retrata tudo que precisamos. O que fazer se tivéssemos isso ou aquilo? Sonhos. Mas e o que fazemos com o que temos agora? Escrevemos nossa história e deixamos essa parte, da Helen Keller, para a hora que deitamos no travesseiro antes de dormir. E, se for algo palpável, possível, lutamos por essa coisa, mas sem, claro, nos desviarmos do nosso objetivo, que não chamo de conformista, chamo de otimista: que é simplesmente ver o lado bom de cada coisa que temos.



Toalhas quentinhas, recém passadas, com cheiro de amaciante.
Um passeio no parque, ao final da tarde.
Cachorros correndo e brincando.
Crianças sorrindo pra você.


Crianças curadas do câncer.
Quando compramos uma roupa nova que cai bem.
Um filme que você já viu tantas vezes que decorou todo o roteiro.


Abraço de vó.
Pegar o elevador vazio.
Chegar cedo em casa e pegar um pedaço de um programa que você adora.
Comida quentinha, fresca, quando você está com fome.
Ajudar alguém que precisa muito.
Lembranças da infância.



A lembrança de um momento bom, que ressurge com uma música, um cheiro, um lugar.
Rir até doer a barriga.
Dançar até não sentir as pernas.
A satisfação de terminar um trabalho.
Conversar com velhos amigos.
Uma cena engraçada de um filme que você ri sempre.


Destravar o celular e ver que tem mensagem de quem você gosta.
Sexta-feira.
Sábados ensolarados.
Sábados chuvosos.
Sábados.
Desenhos da infância.


Ganhar um presente.
Surpreender-se de uma maneira boa com alguém que você não esperava.
Água, quando você está com muita sede.
Um doce depois do almoço.
Brigadeiro.


Matar a saudade de alguém.
Ter alguém que se importa com você.
Ouvir sua música favorita tocar na rádio.
Tirar os sapatos ao chegar em casa, após uma noite badalada.
Cheiro de chuva.



Olhar as luzes acesas das casas e imaginar como a casa é por dentro.
Viajar à noite, pela estrada só ouvindo o barulho do vento e a lua acompanhando o carro.
Assistir suas séries preferidas.
Enfeites de Natal.



A ligação que você tem com personagens ao acabar um filme, um livro, uma série.
Reencontrar amigos após muito tempo e tudo parecer igual.
Quando você vê que alguém passou por um período muito ruim e superou.
Quando você vê que passou por um momento muito difícil e superou.

E, apesar de todas as adversidades, sabe que pode sempre contar com alguém.
Sabe que pode contar sempre comigo.

I don't believe in many things, but in you I do. <3





sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Segundo relato anônimo


Depressão A tristeza é um sentimento que se faz presente na vida de todos, mas comigo começou a ficar cada vez mais frequente e ela trouxe sua amiga angústia pra me apresentar. Lembro que tudo começou em um período de tempo que eu acumulava tarefas e as pessoas cobravam bastante de mim porque acreditavam na minha capacidade. Então tive problemas na família e tudo convergiu de tal modo que não pude suportar. Lembro do medo estampado na cara dos meus pais quando disse que não aguentava mais e, em prantos, afirmei que não iria conseguir sozinha. O início do tratamento foi difícil. Sentia muito sono e não conseguia me concentrar. Parei o hábito da leitura, não via mais filmes e nem seriados e não tinha muitos recursos para me distrair com meus amigos. Tive uma reação assustadora ao meu primeiro remédio, meu pescoço e rosto entortaram de tal modo que mal conseguia falar. Hoje, depois de ter parado a medicação e a terapia e ficado bem, sinto que piorei novamente e a dificuldade de me concentrar veio com força. O último ano da graduação foi tão complicado que criei uma imensa barreira com relação aos estudos futuros que luto para quebrar. Mesmo assim acredito que o segredo para a melhora é assumir que, quando enfrentar a vida é difícil demais, existe um problema e não é possível vencê-lo sozinho e que, se acontecer mais de uma vez, não é vergonha nenhuma pedir ajuda novamente. Terapia é muito benéfica e medicamentos, por mais que tenham efeitos negativos, muitas vezes se fazem necessários, mas acima de tudo, todos aqueles que amamos farão de tudo para não nos deixar cair e, caso a gente insista em desabar, estarão sempre ali para nos amparar e mostrar o valor que a depressão não nos deixa enxergar. Troquei de medicamento e tudo foi melhorando aos poucos, porém até hoje tento digerir meu último ano de faculdade e rostos e vozes dos docentes mais queridos me perguntando o que tinha acontecido comigo e o motivo do meu rendimento ter caído tanto.

L.S., sexo feminino.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Diário dos 40 dias de Escitalopram e Buspirona

Olá, terráqueos!

Ontem fui buscar mais 60 cápsulas de Buspirona (15mg) e Escitalopram (15mg). Acabei de tomar 40 cápsulas. Parece que o período mais difícil já passou. Mas vou contar aqui um pouco do que ocorreu nesses 40 dias de remédio. 

Na semana que antecedeu a consulta ao psiquiatra

Estava passando muito mal, pernas duras, pontadas pelo corpo, moscas volantes, visão embaçada, tonturas, falta de ar. Para chegar à consulta foi um martírio, andava e parecia que estava flutuando. Consulta feita e o veredito: antidepressivo e ansiolítico. Oxalato de Escitalopram, 15mg, dose relativamente alta para quem nunca usou esse tipo de medicação. 

Primeira Semana

A primeira semana foi, certamente, a mais difícil. Muitos, muitos efeitos colaterais. Conheci pessoas que tomavam a mesma medicação sem ter tido nenhum dos efeitos que eu tinha e também muita gente que teve efeitos iguais ou até mais severos. Os sintomas, que combinados com os que eu já tinha, ficaram mais intensos. Muita tontura, visão turva, tremores nas mãos, fome nenhuma, não conseguia dormir, se deitava na cama, queria levantar, se levantava não sabia o que fazer, se deitava, se andava de um lado para o outro, era uma sensação de impotência, estava perdida e não sabia o que fazer. Tive crises de pânico, boca muito seca, pupilas dilatadas, tremores e mais tremores, muita falta de ar, fui parar no Pronto Socorro mais de uma vez. Pensei em parar de tomar o remédio.

Segunda Semana

Na segunda semana, os sintomas continuaram, mas menos intensos. Não tive mais crises de pânico. Ainda tinha a sensação de estar flutuando, com muitas dores nas articulações e sensações de queimação na pele. Muito enjoo e nada de sentir fome. A depressão também melhorou, já não sentia constantemente aquela angústia sufocante. Ao final da segunda semana, tudo começou a melhorar.

Terceira Semana

A terceira semana começou melhor, parei de ir ao PS. Os sintomas amenizaram, fui a uma consulta no neurologista, que só me fez crer que tudo que eu tinha era mesmo ansiedade. Foi quando decidi criar o blog. As pontadas no corpo diminuíram significativamente e a tontura simplesmente sumiu. As dores nas pernas ainda surgiam de vez em quando, mas começaram a reduzir também. As moscas volantes continuavam incomodando, mas, após ir ao oftalmologista, fazer diversos exames acabei descobrindo que era um problema mais comum do que eu imaginava, que poderia se tornar incômodo a quem sofre de estresse, depressão ou ansiedade. 

Quarta Semana

Quase nenhum sintoma, algumas cismas. Parei de pesquisar na internet. Pontadas raramente, uns dias melhores que os outros. Visão melhorou. Tontura não apareceu mais. Porém, notei um pouco de hiperatividade. Não conseguia desligar. Ficar parada assistindo a um programa ou sentar para fazer algo mais monótono. Muita, muita energia, mesmo quando estava moída de cansaço. Porém, o humor estava melhor, não chorei, nem me senti tão angustiada. Alguns pensamentos pessimistas, mas não constantemente e durante o dia MUITO SONO, muito sono mesmo que tivesse dormido a noite toda.

Quinta Semana

Praticamente nenhum sintoma. Nunca mais pesquisei nada. Moscas volantes reduziram um pouco. Pontadas também. Aparecem alguns sintomas nos dias que estou mais ansiosa. Tontura não senti mais, falta de ar praticamente sumiu. Dores nas pernas melhoraram muito, agora só dói quando faço exercícios pesados, como qualquer pessoa normal. Muito ânimo e humor melhor. Não choro ou me desespero há pelo menos 3 semanas. Ainda tenho pesadelos e sensações ruins, mas não posso querer tudo de uma vez.

Hoje

Hoje começo mais 60 cápsulas. Mais 60 passos. Um atrás do outro, sem me precipitar. Vivendo um dia de cada vez. O processo é lento, mas o resultado é inexplicável. Lembro-me de algo que o psiquiatra disse na minha primeira consulta, eu não conseguia parar de tremer as pernas e suava muito. "Você só vai entender quando fizer efeito e você começar a melhorar, mas isso só acontece, pelo menos, depois de 20 dias". 

Aqui estou compartilhando mais uma etapa com vocês. Levei anos com sintomas indo e vindo e seis meses de uma sensação horrível inexplicável para procurar um profissional que trata de saúde mental. Não devemos deixar de lado só porque "é coisa da nossa cabeça", porque o cérebro é algo maravilhoso, mas muitas vezes difícil de lidar, pois comanda todo nosso corpo e nos prega muitas peças. O importante é não sentir vergonha do que sente, buscar ajuda onde conseguir, amigos, familiares, namorado(a), trabalho, animais de estimação, mas, principalmente, quando fugir do controle, ajuda profissional. 

Estou à disposição para quem quiser contar o relato, anonimamente, reservadamente, ou quiser apenas conversar sobre.

Mais um dia.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Moscas Volantes



A percepção de pequenas manchas ou nuvens movimentando-se dentro do campo de visão constituem as chamadas “moscas volantes”. Geralmente são vistas quando se olha para um fundo claro, como uma parede branca ou um céu azul. Na realidade, as moscas volantes são minúsculos grumos de gel ou células dentro do corpo vítreo, o fluido gelatinoso, que preenche o interior do olho.
Estes objetos dão a impressão de estar diante do olho, mas de fato estão flutuando lá dentro. O que se vê são as sombras projetadas sobre a retina, a camada do fundo de olho que percebe a luz e envia o estímulo luminoso até o cérebro. As moscas volantes podem assumir formas diversas, como pequenos pontos, círculos, linhas, nuvens ou teias de aranha.

O que causa as moscas volantes?

Uma causa comum de moscas volantes é o descolamento do vítreo posterior, o qual pode ocorrer como um processo degenerativo relacionado ao envelhecimento.O processo resulta do espessamento ou contração do gel vítreo, formando grumos ou filamentos dentro do olho. Ao se afastar da parede posterior do olho, o gel vítreo provoca o que conhecemos como descolamento do vítreo posterior.
O descolamento do vítreo posterior ocorre com maior frequência nas pessoas míopes, nos pacientes submetidos à cirurgia de catarata ou à aplicação de laser YAG após cirurgia de catarata, e naqueles que sofreram algum tipo de inflamação ocular.

As moscas volantes são graves?

As “moscas volantes” tornam-se mais frequentes à medida que envelhecemos. O aparecimento de moscas volantes pode causar uma certa apreensão, sobretudo se surgem de repente, entretanto nem todas as moscas volantes são graves. Se o processo se limitar ao vítreo, as moscas volantes podem atrapalhar a clareza da visão, o que pode ser bastante desconfortável, especialmente quando se está lendo, mas não ocasionarão nenhum problema de maior gravidade. Nestes casos, movimentar os olhos, olhando para cima e para baixo, pode ajudar a afastar as moscas volantes do campo de visão que, com o passar do tempo, deixarão de ser tão perceptíveis.
O que preocupa no aparecimento das moscas volantes é a possibilidade de ocorrer uma rasgadura da retina.  Em muitos casos a rasgadura da retina é acompanhada de sangramento para dentro da cavidade vítrea, perceptível sob a forma de moscas volantes ou turvação da visão.
Um buraco na retina é uma condição extremamente grave, já que pode evoluir para um descolamento de retina. A percepção de mosca volante, mesmo que única, de clarões no campo de visão ou a perda da visão lateral devem ser investigadas o mais rápido possível através de um exame com o oftalmologista.

Descolamento vítreo posterior (DVP)Ultrassom- opacidades vítreas e DVP

Este exame, chamado de mapeamento de retina,  requer a  dilatação da pupila, o que poderá dificultar ou impedir as atividades cotidianas por algumas horas. O oftalmologista observará com cuidado o vítreo, a retina e principalmente a parte mais periférica da retina, procurando eventuais lesões que o descolamento do vítreo posterior (DVP), possa ter causado à retina.
Além do mapeamento de retina, a avaliação do vítreo e da retina poderá ser complementada por meio da ultrassonografia ocular, um exame não invasivo, de grande importância no estudo desta condição.

Rasgadura da retinaDescolamento de retina

O que causa clarões de luz?

Clarões de luz ou relâmpagos podem ser vistos quando o gel vítreo traciona a retina. É a mesma sensação de “ver estrelas”, experimentada quando se aperta o olho. O aparecimento súbito de clarões de luz é um sintoma que deve ser investigado imediatamente, devido ao risco de que alguma lesão da retina possa ocorrer.

O que pode ser feito com as moscas volantes?

Em geral, as moscas volantes não necessitam tratamento. Algumas delas podem permanecer no campo de visão, porém muitas diminuem ou desaparecem com o tempo, deixando de incomodar. Nos casos de opacidades densas, causando grande desconforto ou comprometimento da visão, a remoção das opacidades vítreas por meio de procedimento cirúrgico (vitrectomia via pars plana), pode ser considerada.
Também, nos casos em que o descolamento do vítreo vier a causar alguma lesão da retina, o oftalmologista orientará o tratamento que poderá consistir na aplicação de laser para bloqueio da lesão. Nas situações de maior gravidade, que tenham evoluído para um descolamento de retina, o tratamento possivelmente será uma cirurgia a ser realizada o mais rápido possível para evitar um maior comprometimento da visão.

Enxaqueca

Algumas pessoas observam clarões de luz na forma de linhas recortadas ou “ondas de calor” em ambos os olhos, que podem durar de 10 a 20 minutos. Este tipo de clarão é habitualmente causado por um espasmo ou uma contração dos vasos sanguíneos do cérebro, não sendo portanto de origem ocular.
Se os clarões forem acompanhados por dor de cabeça, tem-se uma condição conhecida como enxaqueca. Porém, linhas recortadas ou “ondas de calor” podem ocorrer sem dor de cabeça. Neste caso, os clarões de luz são chamados de enxaqueca oftálmica, ou enxaqueca sem dor de cabeça.

Moscas Volantes e Ansiedade

Assim como diversos outros sintomas que surgem quando estamos ansiosos, os nossos olhos também apresentam alterações. As moscas volantes são mais comuns em pessoas míopes e podem fazer parte da visão sem que percebamos. Contudo, quando ficamos ansiosos, as moscas podem se tornar mais visíveis, justamente por estarmos em constante estado de alerta a qualquer mínima modificação do corpo, fazendo com que tudo que nos for ligeiramente estranho passe a ser um incômodo constante. 
Apesar de ser algo comum a pessoas acima de 45 anos, as moscas volantes podem aparecer na visão de pessoas jovens e têm aparecido cada vez mais devido ao uso contínuo de computadores, tablets e smartphones, sem que exista um limite ou um descanso para a retina. E podem tanto surgir com a ansiedade como ser a causa dela. Paredes brancas, lugares claros, o céu durante o dia são propícios para o avistamento das temidas moscas.

Olho seco

Comum, assim como as moscas volantes, o olho seco também é uma constante nos consultórios ofalmológicos. O clima é um dos fatores desencadeantes, mas o uso de medicamentos para depressão e ansiedade, bem como a própria ansiedade, também podem desencadear olhos secos. As mulheres têm uma probabilidade maior devido aos hormônios, ao uso de anticoncepcional e à maquiagem. 
É recomendado uso de colírio, lágrimas artificiais para manter o olho lubrificado e não causar nenhuma infecção.




quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Depressão não é "frescura"


Muitas pessoas tratam as patologias psiquiátricas e psicológicas como "frescura". Mas, claro, para elas, algo que não aparenta ser físico só pode ser uma invenção da cabeça.

Mas não é bem assim.

Depressão não é "frescura". Não é uma tristeza momentânea por um determinado acontecimento. Não é aquele vazio que normalmente sentimos em finais de tarde, a preguiça de levantar cedo na segunda-feira ou a falta de dinheiro no final do mês. A depressão não tem necessariamente uma causa específica, pode ser agravada por acontecimentos, palavras e até pelo descaso das outras pessoas, mas esses fatores podem ou não ser determinantes e isso varia de pessoa para pessoa. A depressão não atinge só quem passa por momentos de dificuldade financeira, morte de entes queridos, animais, decepções amorosas ou no trabalho, como todo mundo pensa que é. A depressão pode atingir qualquer pessoa e não precisa existir um motivo concreto. Assim como diversas doenças.

Portanto, para você que não tem depressão, vai aqui uma lista de coisas que você precisa saber.

1. A depressão não é algo que pode ser controlado por vontade própria

Não adianta falar para alguém que tem depressão que ela deve "pensar positivo", "parar de ser triste", "sair e se distrair". A depressão é um lugar escuro. E a luz está longe de ser alguma dessas frases prontas que se diz a alguém que terminou com o namorado ou perdeu o emprego. Tome muito cuidado com as palavras.

2. A depressão atinge qualquer faixa etária ou classe social

Não é porque a pessoa tem uma vida aparentemente "boa" que ela está livre de ter depressão. Primeiro, porque sabemos que a visão que temos da vida alheia é bem diferente do que ela realmente é. Segundo, porque problemas são subjetivos, somente quem passa por eles sabe a dimensão. Então não faça comparações esdrúxulas, como: "Tantas crianças passando fome na África e você que tem o que comer não levanta da cama", "Veja, ela não tem um braço e é feliz. Você com os dois fica nessa depressão". Isso é um retrocesso para a pessoa que está em depressão, em vez de ajudá-la, você pode até prejudicar e fazê-la regredir no tratamento.

3. Não se deve minimizar a dor de quem tem depressão

Complementando o tópico anterior, tratar a depressão como algo que 1. pode ser controlado; 2. sem importância, pois crianças na África têm fome; 3. que tem uma causa específica e a pessoa está exagerando é algo que pode prejudicar quem passa por esse processo. A pessoa, que não consegue entender por que está naquele lugar, começa a achar que nunca sairá de lá, pois ela mesma não compreende o que a levou até lá e se as pessoas à sua volta não conseguem compreender o mínimo, ela sentirá que está sozinha, isolando-se ainda mais de tudo.

4. A depressão não tem uma causa específica, mas pode ter agravantes

A pessoa pode estar em depressão por diversas causas, conjuntas, por uma causa específica, por um assunto mal terminado ou simplesmente sem nenhuma causa. Por isso, é imprescindível que quem deseja ajudar quem está deprimido saiba algumas coisas:

a.) não se deve julgar quem está em depressão (principalmente minimizando a dor e fazendo comparações esdrúxulas).
b.) deve-se evitar dar conselhos, conselhos só vão atrapalhar e fazer com que a pessoa se sinta ainda mais sozinha.
c.) não meça ninguém com a própria régua, se alguém com depressão pode não conseguir compreender outra pessoa no mesmo estado, você, que não se encontra nesse estado, pode, menos ainda, compreender a dor do outro. Apenas respeite.
d.) não empurre religião em alguém que não tem costume de ser religioso. Se a pessoa está aberta a isso, tudo bem fazer orações. Mas se a pessoa não tem esse costume, tentar empurrar rezas goela abaixo só vai fazer com que ela se sinta pior ainda, primeiro por não conseguir melhorar efetivamente com isso, segundo por não se sentir bem e terceiro porque cada ser é distinto do outro, então respeite a escolha de cada um. Falar em Deus não ajuda quem não quer ouvir, é um conceito básico.

5. Coisas que podem ser feitas para ajudar alguém próximo com depressão

a.) Ser paciente. Tenha paciência. Vão existira altos e baixos, dias ruins e dias ruins e, quem sabe, dias melhores. Mas nenhum deles será regra, não é algo que se pode prever. Então, tenha cautela e muita paciência.
b.) Estar presente. Mostrar-se presente, com gestos e atitudes, não apenas com palavras. As palavras entram e saem pelo ouvido de quem tem depressão e, acredite, alguém com depressão pode transformar qualquer conselho em algo ruim. Trata-se de algo intrínseco, que distorce a visão externa.
c.) Ouvir mais do que falar. Muitas vezes, as pessoas querem tentar expor o que sentem, mas têm vergonha ou receio de julgamentos precipitados, discursos prontos de como elas deveriam sair e distrair, ver coisas alegres, acreditar em Deus etc. Cansadas das mesmas coisas, acabam se isolando e se calando.
d.) Respeitar a dor alheia. Respeito é bom e todo mundo gosta. Cada um tem seu infinito particular, seu pedaço de mundo. Por isso, é importante não invadir esse espaço. Se a pessoa quiser falar, ouça. Se não quiser, não insista a ponto de piorar as coisas.
e.) Perguntar se está tudo bem ou se a pessoa precisa de algo. Tentar ajudar de uma forma honesta, sem precipitações, vendo primeiro o que a pessoa quer antes de qualquer coisa.
f.) Aprender sobre a depressão. Ler e procurar saber sobre antes de soltar qualquer frase pronta, clichê e absurdos do senso comum que só fazem piorar o estado de quem está depressivo.

6. Não banalize o transtorno

Muitas pessoas banalizam os transtornos, como se fossem estados de humor que podem ser mudados com um sorvete de chocolate. "Ai, hoje tô deprê", "Eu sou muito bipolar, de manhã tô brava e de tarde tô alegre", "Eu tenho TOC com isso".

BIPOLAR é um tipo de transtorno. É um transtorno GRAVE. Não é porque você tem modificações do seu humor mimado que você é bipolar. Se você tá bravinha de manhã e feliz à tarde não significa que você tem um transtorno. Seja responsável e não transforme a dor do outro em mais uma futilidade sua.

DEPRESSÃO é um transtorno. Não é porque você tá triste porque sua série foi cancelada que você está "deprê". Depressão tem tratamento e só é tratada como frescura por conta de banalizações como essa.

TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO (TOC) atrapalha a vida de muitas pessoas. Não é porque você gosta de linhas simétricas que você tem TOC. TOC precisa de tratamento, acompanhamento e é um TRANSTORNO, não uma brincadeira da internet.

Ficou claro?

DEPRESSÃO NÃO É FRESCURA.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A preocupação excessiva e a distorção da realidade

A ansiedade nada mais é do que uma preocupação excessiva. Quando nos PREocupamos com algo, estamos antecipando problemas que podem ou não acontecer, mas que só poderíamos resolver se fossem concretos, ou seja: ocupando-nos deles e não nos preocupando com. Apesar de tudo isso, é muito difícil deixar as preocupações de lado, principalmente para quem é ansioso. Contudo, quando as preocupações são excessivas e estão tomando conta da sua vida pessoal, do seu trabalho, tirando seu sono e sua concentração: é hora de buscar ajuda profissional. Está com os exames em dia? Se não, faça-os. Não houve nenhuma alteração significativa? Então o mais correto é buscar ajuda de um psicólogo, um terapeuta ou um psiquiatra – e até de uma terapia conjunta, que envolva medicamento e sessões. 
Nosso corpo nos manda sinais de que há algo errado, mas muitas vezes, receber esses sinais não significa que tenhamos alguma doença física específica, mas, algum processo mental ocorre. Quando estamos ansiosos, ficamos alerta o tempo todo. A mãe que se preocupa com o filho é uma mãe normal. Já a mãe que tem uma preocupação obsessiva, precisa de ajuda. Preocupar-se com a saúde é normal. Ficar obcecado por doenças é sinal de que algo não vai bem. 
Quando fui ao neurologista, pensando ter alguma doença autoimune ou degenerativa, e expliquei o que eu sentia ao médico, ele logo descartou qualquer doença e disse algo que me fez pensar: "A ansiedade nos faz ter consciência de tudo que ocorre no nosso corpo e isso é um problema. Por exemplo, se ficarmos prestando atenção na nossa respiração, ela vai acabar ficando forçada ou irregular em algum momento. Se prestarmos atenção na maneira como nos locomovemos, começaremos a sentir algo estranho nas pernas. Assim como a visão e demais sentidos do corpo humano". E essa, amigos ansiosos, é uma verdade absoluta. Desde que tive os primeiros sinais de que a ansiedade havia passado dos limites, comecei a prestar atenção excessiva em cada sinal do meu corpo. Tato, visão, respiração. Não estava enxergando direito, não estava respirando, tinha a sensação que havia desaprendido a andar. Que minha perna esquerda estava pior que a direita, puxando, como se estivesse endurecendo. Mas eu conseguia fazer todos os exercícios na academia sem nenhum esforço. Ué? Então qual a explicação para o fenômeno da perna, que só ocorria quando eu estava andando sozinha e pensando na morte da bezerra? Aí é que está: o problema estava na minha cabeça. 
A ansiedade gera o medo. Medo das mais diversas coisas. Esse medo distorce a realidade. Assim como eu distorci pensando ter alguma doença grave, as pessoas distorcem pelos mais diversos motivos. Algumas pessoas ficam excessivamente preocupadas de que algo vá acontecer com elas caso saiam de casa. Um atropelamento. Um assalto. Um estupro. Um mal súbito sem ninguém para socorrer. E os mais diversos pensamentos alimentados pelo medo. Outras têm preocupação excessiva com entes familiares. Não conseguem dormir à noite pensando que vão perder as pessoas que amam, que se saírem de casa vão ser assaltadas, mortas, desaparecer. O excesso de preocupação transforma a realidade aumentando de maneira progressiva as possibilidades das coisas ocorrerem. Coisas que têm estatística de 0,01% passam a ser prováveis. 
Eu também tinha medo de sair de casa. Passava longe dos carros estacionados, temendo que alguém estivesse dentro deles e me sequestrasse. Medo exacerbado é diferente de cautela. Cautela é tomar cuidado, ter medo é sentir-se apavorado em situações comuns do dia a dia. É preciso saber essa diferença.
A preocupação esdrúxula nos leva ao nosso limite. Tirando nossa paz, nosso sossego, nossas noites de sono e até as tarefas simples que realizamos normalmente. Diria que é uma hiperconsciência, um aumento mórbido de sensações, o nosso alerta máximo a qualquer mínima coisa diferente, uma desconfiança constante. 

Por isso, não tenha vergonha de assumir para si mesmo que se sente assim. Não tenha medo de cogitar essa possibilidade. Não tenha receio de buscar qualquer tipo de ajuda. Nós é que devemos tomar conta das preocupações, na verdade, ocupando-nos dos reais problemas e não nos preocupando com problemas inexistentes ou potenciais, deixando que a preocupação nos tome. Morrendo, sempre, na véspera, sem viver os momentos em seu tempo certo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O retorno ao Psiquiatra

Eu já tinha ido duas vezes ao psiquiatra. Na segunda vez, foi porque me desesperei com os efeitos colaterais do remédio e achava que iria morrer. 

Não morri.

E hoje fez um mês de escitalopram e buspirona. Fiquei o dia inteiro apreensiva. Vai que eu chego lá e tem uma camisa de força me esperando. Ou que eu sou atropelada no caminho. Ou roubam minha bolsa. Ou pior: eu tenho um colapso e morro na calçada com meu celular destravado.

Esses pensamentos maravilhosos de quem é ansioso. E pessimista.

Cheguei lá, tinha um paciente na portaria do prédio que ia para o mesmo andar. Quando falei o nome do médico, ele virou e disse "Você também é bancária? Ele atende muito bancários que ficaram loucos."

Quê? Já me deu um calafrio. Respondi: "Não sou não". "É professora, então?" É tão óbvio assim?
Respondi que era só revisora. Céus, dez andares intermináveis.

Cheguei lá, consultório vazio. Será que eu teria que ficar na sala com aquele bancário (sei lá) estranho que não calava a boca? 

Ele assinou a ficha e logo foi chamado. Eu, distraída, assinei no lugar errado para variar. Só para variar.

Entrei apreensiva esperando o pior. Só de olhar para a minha cara ele poderia decretar uma sentença de morte ou sei lá. O fato é que do caminho do trabalho até o consultório, que não dá meia hora, eu pensei em tudo isso e mais um pouco.

"E aí, dona Natália?" Gelei. Respondi que estava melhor, mas que ainda tinha alguns sintomas. Ele brincou. Fez umas perguntas, conversou um pouco. Fiquei mais calma. Receitou remédio para mais dois meses.

Estou visivelmente melhor, mas ainda bate o desespero, a ansiedade, os pensamentos compulsivos pessimistas que não vão embora. Já tem dias que não pesquiso doenças. E nem sinto vontade. O remédio me ajudou bastante, a não ficar ansiosa 24 horas por dia, por exemplo. Mas algumas situações ainda me levam ao extremo.

É um caminho longo. Mas não tenho outra escolha senão percorrê-lo. 

"Tá tomando remédio de louco, é?" Disseram. 

Achei de mau gosto. Mas respondi que sim.

Ser normal é muito chato.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Síndrome do Pensamento Acelerado

Já ouviu falar da "Síndrome do Pensamento Acelerado"? Pois é.

É um dos males do nosso século. As pessoas têm mais de um emprego, estudam, cuidam da casa, dos filhos, dos animais de estimação, procuram interagir nas redes, participar de eventos, encontrar amigos... ufa! Tudo isso cansa. Mesmo as coisas prazerosas. Isso porque fazemos tudo em um ritmo frenético e acelerado, para ganhar tempo, mas a verdade é que não aproveitamos nosso tempo com sabedoria.

Seria o pensamento acelerado causado pela ansiedade ou seria a ansiedade causada pelo pensamento acelerado?

Não conseguimos viver um dia de cada vez, sem nos preocuparmos com o "amanhã", o "depois de amanhã", o "mês que vem". E, acabamos por perder o "hoje". Excesso de preocupação que, quando extrapola um limite, é mais um degrau para um possível transtorno de ansiedade.

O ideal é tentar relaxar. Mas quem consegue? Não existe uma receita certa, mas fazer o que gosta, com calma, sem acelerar as coisas, colocando tudo em seu devido lugar, é algo que ajuda a desligar um pouco, reduzir a tensão.

Afinal, o amanhã ninguém sabe. Vamos aproveitar o que temos hoje e cuidar da nossa saúde mental!

Boa noite, ansiosos!

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O poder das palavras

A palavra tem um poder imensurável.

Pelo menos na cabeça das pessoas. Dizer que não se importa todo mundo diz, mas no fundo é bem diferente.

As palavras afetam sim, principalmente, pessoas que estão vulneráveis, em guerra com a depressão, ansiedade e inseguras. E pior: as pessoas maltratam as outras a troco de nada. Nada mesmo. Porque não gostaram do jeito, do cabelo, da roupa e até de uma coisa que outra falou em um determinado momento e jamais foi confrontada. Não faça isso. Você não sabe pelo que a pessoa está passando. Você não sabe o quanto pode influenciar uma pessoa que tem tendência a ficar deprimida, a entrar em modo de autodestruição, que tem baixa autoestima. E esse é um dos motivos pelos quais as pessoas que estão nessas situações permanecem nelas por muitos anos, mesmo com terapia, mesmo com medicação, mesmo com pessoas que as amam ao seu redor. Porque uma crítica infundada e desnecessária, uma palavra mal utilizada, em tom de deboche, tem um peso muito maior do que mil elogios.

Os transtornos que envolvem a mente não são levados a sério como deveriam. São tratados como frescura, falta do que fazer, falta de um namorado, falta de um emprego ou qualquer coisa que justifique o abismo que a pessoa está prestes a pular, o fundo do poço no qual se encontra, sem nem ela mesma entender por quê. Mas a verdade é que não são necessários motivos concretos. A única coisa que pode desencadear uma crise é nossa mente e os fatores externos são um agravante. Porque cada um é diferente, cada um é afetado de uma forma, por algo, específico ou por um conjunto de coisas que dentro da cabeça faz muito, muito sentido, ao mesmo tempo que não faz nenhum.

As enfermidades psiquiátricas são as que mais crescem, não só no Brasil, mas no mundo. O mal do século XIX era a tuberculose. Enquanto, hoje, não lutamos contra uma bactéria, mas, sim, contra nossa própria mente. 

Então, se pretende usar a palavra, use-a com responsabilidade. Use-a sem julgar. Use-a para ajudar.

Se não for para isso, então o mais sábio é calar-se.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Crises de Pânico

As crises de pânico são bastante frequentes entre as pessoas que procuram serviços médicos gerais, de atenção primária, e também especialistas diversos, como cardiologistas e neurologistas (estes devido às vertigens que muitas vezes acompanham as crises).
As crises de pânico são caracterizadas como ataques agudos de ansiedade intensa, acompanhados por sintomas somáticos proeminentes. Entre os sintomas psíquicos, encontram-se medo intenso (de morrer, perder o controle, enlouquecer) e sensações de irrealidade ou estranheza referidas ao ambiente (desrealização) ou a si mesmo (despersonalização). Para o diagnóstico de crise de pânico, devem estar presentes quatro ou mais desses sintomas e dos que serão expostos mais adiante (de acordo com os critérios da American Psychiatric Association). Os sintomas iniciam-se agudamente e atingem sua intensidade máxima dentro de 10 minutos, esvanecendo-se num período variável de minutos a 1 ou 2 horas.
Quando as crises de pânico ocorrem de forma espontânea e recorrente, levando à intensa preocupação com sua repetição e supostas consequências (medo de morrer, de sofrer um ataque cardíaco ou AVC etc.), fala-se em transtorno do pânico.

Numa crise bem delimitada de intenso medo ou desconforto, 4 ou mais dos seguintes sintomas desenvolvem-se abruptamente e alcançam o máximo de sua intensidade em 10 minutos:

1. Palpitações ou aceleração da frequência cardíaca.
2. Sudorese.
3. Tremores ou abalos.
4. Sensação de falta de ar ou sufocação.
5. Sensação de asfixia.
6. Dor ou desconforto torácico.
7. Náusea ou desconforto abdominal.
8. Sensações de tonturas, instabilidade, vertigem ou desmaio.
9. Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (estranheza referida a si mesmo).
10. Medo de morrer.
11. Parestesias (anestesia ou sensação de formigamento).
12. Medo de perder o controle ou enlouquecer.
13. Calafrios ou ondas de calor.

Durante as crises de pânico, podem ocorrer taquicardia transitórica e elevação moderada da pressão arterial sistólica.

Fonte: MARI, Jair de Jesus, RAZZOUK, Denise, PERES, Maria Fernando Tourinho e DEL PORTO, José Alberto. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar Unifesp/ Escola Paulista de Medicina – Psiquiatria. Manole: São Paulo.

domingo, 18 de outubro de 2015

Sinais e Sintomas da Ansiedade

Define-se ansiedade como um estado de humor desconfortável, uma apreensão negativa em relação ao futuro ou uma inquietação interna desagradável. Ela pode ser considerada normal ou patológica, sendo esta uma decisão subjetiva do médico, que deve avaliar a intensidade, a duração, a frequência e o prejuízo causado na vida do paciente.

Seguem abaixo os principais sinais e sintomas da ansiedade:

Somáticos

Autonômicos

Taquicardia
Vasoconstrição
Sudorese
Aumento do peristaltismo
Náusea
Midríase
Piloereção

Musculares

Dores
Contraturas
Tremores

Cinestésicos

Parestesias
Ondas de calor
Calafrios
Adormecimentos

Respiratórios

Sufocação
Sensação de Afogamento
Asfixia
Falta de ar

Visuais

Turvação da visão
Olhos secos

Psíquicos

Tensão
Nervosismo
Apreensão
Mal-estar indefinido
Insegurança
Dificuldade de concentração
Sensação de estranheza
Despersonalização
Desrealização

Fonte: MARI, Jair de Jesus, RAZZOUK, Denise, PERES, Maria Fernando Tourinho e DEL PORTO, José Alberto. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar Unifesp/ Escola Paulista de Medicina – Psiquiatria. Manole: São Paulo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Boas vindas da ansiosa criadora deste blog :)

Meu nome é Natália, sou revisora, trabalho em horário comercial, levo muitos freelas para casa e adoro o que faço. 

Criei este blog no intuito de ajudar pessoas que sofrem dos mais diversos transtornos e, principalmente, ansiedade. Ia fazer um post de introdução, mas preferi começar com um relato.
Eu estou em processo de adaptação do meu remédio, ainda, que tomo há 3 semanas. Em vista do jeito que estava, agora estou bem melhor.

Meu primeiro sintoma foi a falta de ar. Já tinha tido diversos episódios de falta de ar, acompanhada de uma "tontura flutuante". Cheguei a fazer teste para labirintite, foi constatada hiperinsulinemia. Mas, com essa constatação, o fato de que eu só deveria me sentir dessa forma caso estivesse com a glicose baixa, o que não era o caso. Eu me sentia assim o tempo todo e a glicose estava normal na maior parte do tempo.
Depois da falta de ar, veio a visão turva. Parecia que eu não enxergava. Mas só que eu enxergava, era uma impressão de estar em outro plano, diferente do das pessoas ao meu redor.
Como estava tomando isotretinoína na época, muita dor nas pernas, que melhorou com o tempo. Mas, como eu estava viciada em buscar sintomas, qualquer dor que eu sentia, era uma terrível constatação.
Estava certa de que tinha alguma doença grave incurável. 
Depois de tanto procurar sintomas, comecei a ter os mais diversos. Pontadas por todo o corpo, o dia todo. Moscas volantes, ah as malditas moscas volantes! Pontinhos flutuando pelos olhos, principalmente o esquerdo. Coincidentemente, o olho que eu achava que estava enxergando menos.
Ferrou. Idas a hospitais e médicos. Exame de fundo de olho. Mapeamento de retina: nada. Dor no peito. Eletrocardiograma, raio-X: nada. Hemograma: nada. Exames hormonais, do fígado, pâncreas, tireoide, doenças infecciosas. Exames para detectar coágulos, doenças autoimunes: nada. Colesterol? Excelente.
Os médicos diziam "Esses sintomas não se encaixam em nenhuma doença, porque são muito diversos". E eu pensava: e se eu tiver ansiedade E A DOENÇA?
Mais horas em frente ao computador pesquisando, pesquisando, pesquisando. Phd em neuro, cardio e oncologia. 
Depois de relutar e perder a essência de viver, achando que, se dormisse, não mais acordaria, decidi ir ao Psiquiatra. O decreto foi: transtorno de ansiedade generalizada e transtorno obsessivo compulsivo. E a pena: 15mg de escitalopram, 15mg de buspirona e, ocasionalmente, 5mg de diazepam (o Valium). 
O começo foi horrível. Os sintomas pioraram. Crises de pânico.
E sabe o que é pior? As pessoas me dizendo "Você tem que se distrair", "Você tem que não pensar nisso", "Você tem que sair para esfriar a cabeça, fazer algo que você goste". Não me entendam mal, sei que querem ajudar: mas se isso está fora do MEU alcance, quem dirá do de vocês? Não existe palavra possível que possa nos arrancar essa angústia, esse gosto amargo na boca, essa preocupação excessiva.
Os passos são pequenos. A cada coisa que acho no meu corpo, penso ainda estar sofrendo de alguma doença. Manchas roxas, quando minhas pernas doem, desconsiderando que pego muito peso na academia sem esforço, eu ainda acho que existe um motivo diferente, que não este, ou o cansaço (porque não paro 24h) para uma dorzinha. 
Mas, estou caminhando para frente. Já consigo passar parte do dia sem pesquisar nada. Já cheguei a ficar 5 horas seguidas pesquisando e lendo sintomas e, como se não bastasse revirar todo o Google em Português, comecei também a pesquisar em Inglês. 

Tenho muitos relatos sobre mim, sobre minha infância, meus traumas (e a ausência deles). Mas vou aos poucos. Primeiro quero dar boas vindas a todos. Esse espaço é para todo mundo e espero que todos aproveitem. Espero também conseguir ajudar, na medida do possível, aqueles que passaram e passam por situações semelhantes. 

Bem-vindos.

Primeiro relato anônimo

Tive uma série de problemas familiares, juntou faculdade e trabalho.
Comecei a passar mal no emprego: falta de ar, taquicardia, suor excessivo.
Pânico.
Estava instaurada a minha guerra contra o desconhecido.
Hospital diariamente..
Meus exames estavam ótimos...!
Me perguntava:
Deus, o que eu tenho? Acho que prefiro morrer...
Exames atrás de exames, amizade até com a mocinha da limpeza do hospital Le Forte no morumbi.
Os médicos, já meus íntimos, aparentemente cansados de ver meu rosto, disseram:
S., você tem pânico associado à grave depressão.
Eu imediatamente esbravejei, num tom incrédulo e de certa forma rude:
Vocês estão loucos?? Eu não tenho isso! Eu estou doente fisicamente!
Por pouco eu não disse:
EU NÃO SOU LOUCA, VOCÊS SÃO INCOMPETENTES, CEGOS OU O QUÊ??
Revolta.
Pensei: Eu não vou voltar naquele hospital.. Onde já se viu..?
Baixa hospital no dia seguinte e nas semanas seguintes e no mês seguinte...
Parei com hospital.
Parei com higiene pessoal.
Parei de comer.
Não levantava da cama, sentia meu corpo atrofiando lentamente.
Já não tinha forças...
Certo dia pensei:
- Quer saber? Acho que pode ser que eu tenha isso.. Mas o que é isso?
Eu não entendia...
Volta ao hospital.
- Doutor, como resolve?
- Você precisa de um psiquiatra.
Silêncio....
- Entendi... Vou ter que tomar "remédio de cabeça"?
- Dependendo do diagnóstico do médico, será necessário tomar.. Provavelmente você tem uma falha em algum neurotransmissor ou falta de serotonina.
- Ah, tudo bem. Obrigada Doutor.
Vai ao psiquiatra.
Toma um remédio, não fez bem.
Testa o próximo, não funciona.
O seguinte, efeito reverso.
Piora no quadro.
E outro, outro, outro...
Suicídio.
Três tentativas mal sucedidas. Sempre o salvador da pátria aparecia...
Será que sou um fracasso até para me matar? Nem pra isso sirvo.! Meu Deus, por favor, me leva...
Frustração, outra tentativa... Eu precisava sair daquilo.
Tomo cinquenta comprimidos diversos.
Agora vai.
Não deu.
O salvador chegou.
Hospital.
Enfermeiro sem paciência, mas, a médica que me conhecia chegou, me abraçou e aguardou o procedimento.
Cinco horas de lavagem.
Parei com os remédios, nenhum adiantou.
Ainda luto contra a mente, hoje estou bem melhor, mas, ainda dói.
A gente vai andando, continua aos trancos e barrancos... Finge sorriso, finge paz, finge vida...
Mas, quem sabe se eu continuar fingindo aquilo não vira real?
Continua...

S.R., sexo feminino, 27 anos.