domingo, 3 de dezembro de 2017

Relato da Talitta


Meu nome é Talitta, tenho 30 anos por pouco menos de 40 dias e sou ansiosa. Atualmente, não tomo nenhum remédio com propósito de controlar a ansiedade, faço apenas a terapia, e mudei completamente meus hábitos de vida, trocando São Paulo por Jericoacoara. Conheci a Natália no Cemitério da Consolação, fomos unidas pelo sarcasmo, a preguiça de encontros pessoais, e a falta de fé na raça humana. Atualmente, somos sócias nos negócios e nos dramas hipocondríacos da vida.

Assumir algumas coisas dói tanto que a gente passa anos a fio em negação absoluta.
Eu neguei internamente a ansiedade, pois ela me tirava a possibilidade de chegar no patamar de perfeição que fui construindo do decorrer da vida. Mas um dia ela se sobrepôs e passou a ser quem eu era e a definir o que eu podia ou não fazer, e eu tive que parar para entender e lidar com isso.
Faz tempo que eu quero escrever nesse espaço, mas nada nunca parecia bom o bastante.
Na minha vida nada nunca parece.
Eu fiz uma faculdade particular de ponta com bolsa, sempre achei que era o mínimo que eu tinha que conseguir.
Apesar de todos os reveses da vida, da ausência de professor de português durante dois dos três anos do ensino médio, eu uso nosso idioma adequadamente, e falo espanhol (de um curso gratuito que consegui na época da escola), e inglês (que estudei de todo jeito que deu, em aulas, cursos, gratuitos ou pagos com os estágios, empregos e ajuda do meu pai), mas eu sempre sinto como se não fosse o bastante, eu tinha que saber mais a essa altura da vida.
Eu tive alguns empregos, e sempre fui uma funcionária boa, não me contentava em estar na média, e sempre dei um jeito de me destacar de alguma maneira, mesmo que isso custasse a minha saúde e sanidade.
Eu estou nesse projeto, com dois sócios investidores, administrando sozinha uma pousada, faço de reservas ao almoço dos funcionários, e o resultado tem sido positivo, financeiramente e pessoalmente. Os clientes, os sócios e funcionários parecem felizes. Mas todo dia eu sinto que não fiz o bastante.
Pode parecer apenas uma pessoa em busca de ser melhor, mas não é isso. É uma insatisfação comigo mesma, uma eterna sensação de inadequação, um grilinho que diz na maior das realizações "não fez mais que a sua obrigação!", que faz com que eu nunca fique feliz e reconheça o que alcancei. Isso interfere nos meus relacionamentos pessoais, gerando uma frustração eterna, eu nunca me acho boa o bastante e que a outra pessoa também nunca é, pois esse patamar de perfeição é inatingível, a máxima "errar é humano" é a verdade mais sábia nesse caso.

Eu tenho feito terapia há cerca de um ano e meio, e só nessa semana consegui falar sobre isso, sobre esse sentimento que permeia todos os aspectos da minha vida, inclusive a ansiedade, que deriva muito dessa necessidade autoimposta de ser 'perfeita". Fiquei cerca de um mês sem falar com a minha terapeuta, e tive muito tempo pensando sobre isso, que eu nunca tinha a dito em voz alta porque me soa patético e longe dessa ideologia de pessoa-perfeita. 
Eu me sinto inferiorizada.
Parte da estrutura dessa questão vem da minha infância, eu tive muita gente maravilhosa me acompanhando na vida, meus pais, meus avós, minha irmã, a família da minha mãe de um modo geral, transbordavam amor e suporte do jeito que eles sabiam dar.
Mas na família do meu pai, que é uma pessoa incrivelmente iluminada, eu sofri uma rejeição velada, ninguém nunca disse que sou feia ou que não era inteligente, mas sempre disseram para todas as crianças ao meu redor como eram lindas e espertas acima da média, e para mim não diziam nada. Sempre ganhei presentes inferiores, sempre fui preterida, apesar de inserida na vida deles de algum modo. Ouvi reclamações sobre a minha mãe descaradamente, antes mesmo dos cinco anos de idade. Vale ressaltar que sempre houve uma questão por parte da família por minha mãe ter engravidado solteira, veja aí o machismo, nunca por meu pai tê-la engravidado.
Tudo isso veio a tona a alguns dias atrás, quando apareceu uma foto de infância nas memórias do Facebook, e começaram os comentários e rasgações de seda, de como um dos meus primos sempre foi fofo e ainda é, e eu me peguei vendo que em nenhum comentário disseram nada positivo, ou elogiando, fui eu quem postou a foto, meus amigos, mães de amigos, todos naquele tipico comportamento elogiativo do Facebook, mas minhas tias acharam um espaço em algo que era meu para enaltecer outra pessoa, e eu, no auge dos meus trinta anos, voltei a ser a menininha que ganhou a boneca com a cabeça quebrada, me perguntando o que faltava em mim, a menina de nove anos, com uma crise absurda de choro, pois tirou C+ em ciências, se achando um lixo.

Tive uma sessão produtiva de reconhecimento na terapia nessa semana. Entender isso me faz poder mudar, porque eu quero mudar. Mudar minhas atuais e novas relações, me deixar relaxar, entender que nada nem ninguém é perfeito, e está tudo bem. Só espero conseguir aplicar essa compreensão na prática.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Ansiedade e vontade de ficar sozinha



É muito difícil explicar às pessoas que você gosta que você quer ficar sozinha e o problema não é, necessariamente, com elas. Eu sinto uma necessidade extrema de ficar sozinha, fazer as coisas sozinha, estar em paz no meu lar sozinha. Eu moro com meu namorado, mas ele não me atrapalhar em nada, ele é bem compreensivo. Nesse sentido então, o meu ficar sozinha se refere a todo o resto. Tirando minha família que convivi a maior parte da minha vida na mesma casa (minha mãe, minha vó e meu irmão), o restante faz parte dessa estatística de ansiedade. Eu morro de medo de alguém se convidar para ir à minha casa. Não tem nada de especial em casa, mas é meu lar, meu refúgio. Eu não gosto de receber visitas e não é por frescura ou maldade. Receber visitas aumenta minha ansiedade, eu fico com falta de ar, nervosa, inquieta, não durmo. Não importa se é alguém próximo ou não, eu não sei lidar. Exceto quando EU convido, porque há todo um preparo psicológico, se eu estou convidando, é porque sei que posso lidar e que não será oneroso. Em todas as outras situações, pesa. É pesado, doloroso, sofrido. Eu sinto dores físicas.
Aliás, eu fico nervosa e ansiosa com qualquer pedido alheio. Eu detesto que me peçam as coisas. Eu adoro fazer as coisas para ajudar as pessoas, desde que elas não me peçam. Quando elas me pedem, eu perco instantaneamente a vontade de ajudá-las. Minha vontade reside em fazer algo que eu possa controlar, do meu jeito de acordo com a minha cabeça. Eu não sou mesquinha para dividir comida, mas se alguém vem e me pede um pedaço sem que eu tenha oferecido, eu fico frustradíssima. Quando compro um doce e ofereço é porque eu estou de coração aberto, querendo dividir com alguém. Mas se alguém vem e me pede um pedaço sem que eu tenha oferecido, eu fico sem chão, com raiva, me sentindo invadida. 
Mesma coisa quando alguém dá palpite em qualquer que seja a área da minha vida. "Faça dessa forma". Pronto. É suficiente para despertar o monstro que vive em mim. Porque eu gosto de ter controle de todas as situações e, mesmo que isso não seja possível, eu gosto de alimentar essa ilusão. De não ter alguém dizendo o que e como eu devo fazer, de seguir meus instintos, minha cabeça, errando sozinha, sempre. 
Eu sou muito individualista e não gosto do meu espaço invadido por ninguém. Então se a pessoa sugere que eu faça algo de uma certa maneira, ainda que de bom grado, eu fico irritada. Se a pessoa me pede algo, mesmo que eu esteja disposta a dar e não tenha oferecido antes, eu fico irritada. Se a pessoa invade minha privacidade de alguma forma, sem que eu tenha dado abertura, eu fico irritada. Se a pessoa se convida para ir à minha casa sem que eu tenha convidado, eu fico irritada. Se a pessoa dá uma opinião não pedida sobre qualquer assunto, que diga respeito à minha vida OU NÃO, eu fico irritada. Porque eu quero o controle das coisas e detesto gente que se sente à vontade comigo. Eu não quero que as pessoas se sintam à vontade, eu quero que elas mantenham uma distância segura e tenham receio de me falar ou perguntar as coisas, a não ser quando eu dou abertura para isso, o que é raro e acontece apenas com pessoas extremamente próximas ou em determinadas situações. E as pessoas já agem assim comigo, cheia de dedos e medos, o que prefiro, porque assim eu consigo respirar. Mas sempre tem alguém que acha que esse meu jeito é uma máscara, ou que finjo ser assim, que não vou achar ruim se ela resolver deixar de exercitar o bom senso e se meter onde não é chamada. Eu, por exemplo, detesto emprestar qualquer coisa minha, mas quando eu me desfaço, eu me desfaço de vez. Eu não tenho dó de doar roupas e sapatos, ainda que novos. Não tenho pena de mandar embora tudo que não uso. Mas não encosta nas coisas que ainda são minhas, elas são sagradas. Quando esqueço algo na casa de alguém e a pessoa usa é como se eu tivesse levando uma facada no meio das costas. Eu às vezes até prefiro me desfazer da coisa do que recuperá-la. Embora eu não seja uma pessoa tímida, ao menos não mais, eu sou uma pessoa fechada, eu não deixo as pessoas entrarem e sentirem-se à vontade. Eu gosto que elas respeitem esse meu espaço, que cheguem perto, mas nem tanto. Não é medo de se magoar ou nada assim, eu só fico sufocada, irritada, agressiva. Sempre foi assim, desde criança. O que alguns acham que é birra e simplesmente egoísmo, grande parte é ansiedade. Ansiedade não tem cura definitiva, o tratamento é eterno, seja ele medicamentoso ou por meio de terapia psicológica. Há melhoras, sim há, mas algumas barreiras não podem ser ultrapassadas. 
Eu só gostaria que as pessoas entendessem esse meu lado. Entendessem que eu não faço porque eu odeio elas. Mas, sim, porque me faz muito mal. Eu sinto dores no estômago, náusea, dor de cabeça, tremor nas pernas, pontadas pelo corpo toda vez que tenho que lidar com alguma situação que envolve a invasão que mencionei acima. E cansa, sabe? Cansa só você ter que engolir seus sentimentos porque "ah, tem que ter empatia, se sua sinceridade machuca, não fale", mas ninguém pensa que essa invasão toda pode machucar também, né? Vou engolindo seco, quando explodo, o estrago é pior. Então todos ficam indignados "que exagero, imagina, como pode". COMO PODE, né? Eu não quero dar abertura às pessoas, eu gosto de viver fechada no meu mundo. Eu gosto. Esse é o problema, eu gosto de ser assim e não quero mudar. Mas é muito trabalhoso para as pessoas me deixar em paz, é muito difícil cuidar da própria vida, deve ser por isso que todo mundo tá com a vida mais bagunçada que a minha. 

Eu não saio do meu conforto para invadir o conforto alheio. N U N C A. Se alguém lembrar alguma vez que fiz isso, pode colocar aqui. Mas isso acontece comigo TODO SANTO DIA. Haja psicoterapia e tarja preta. Porque a humanidade não consegue respeitar um simples pedido de sossego.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Biopsia, Outubro Rosa e mais Ansiedade

Olá, terráqueos.



Fazia muito tempo que não aparecia aqui e o motivo é a ansiedade. Quando estou muito ansiosa, não consigo escrever.

Como já contei aqui, tenho um endometrioma, cisto de conteúdo espesso relacionado à endometriose (que ainda não tenho, propriamente dita) e estou tomando dienogeste 2mg (no momento, estou tomando Alurax, que é semelhante ao Allurene, mesma fórmula, preço menor). É um tipo de progesterona sintética que causa diversas reações. Acne piora: sim, piora, mas no meu caso, aparece uma ou outra isolada, mas cística, interna, sabe aquelas espinhas internas que demoram a sumir? Então. Pelos no rosto, retenção de líquido, dor nos seios, enfim, isso tudo que a gente tem com anticoncepcional mas só que pior (!!!). O meu cisto diminuiu de tamanho, foi de 50cm³ para 25. Considerável. 

Mas (sempre tem o mas).

Tive alterações na tireoide. E um nódulo no seio que tive que fazer biopsia (aquela core-biopsy com agulha grossa). Era benigno. Mas vocês imaginem o que é para um ansioso esperar UMA SEMANA para receber o resultado. O que me tranquilizou foi que o médio que fez a biopsia (que é guiada por ultrassom) foi muito gentil e calmo, dizendo que eu não deveria perder meu sono e deveria ficar tranquila. A postura do médico ajuda muito os ansiosos, porque tem médico que não diz nada, faz tudo em silêncio e fica muito sério, o que já é suficiente para bitolar os hipocondríacos (como eu!). Fiz meus exames todos no Femme, que é um excelente laboratório, assim como o Cura. São os dois melhores em termos de imagenologia ginecológica, obstetrícia e mamária.

Bom, como não fiz post nenhum sobre outubro rosa, vou falar um pouco sobre sobre os RESULTADOS da mamografia e da ultrassom de mama.

É comum ter alterações nos exames de mama, principalmente quando o resultado é Birads II e III. E o que é Birads? É uma classificação padrão utilizada para os exames de mama (mamografia e ultrassom - caso você tenha menos de 35 anos, a ultrassom é indicada, pois as mamas são muito densas antes desse período, prejudicando a visualização através da mamografia). 
Portanto se o resultado foi Birads I, o que é raro, significa que não há alterações nas mamas.
Se foi Birads II, há alterações, mas certamente benignas (podem ser nódulos ou cistos que são comprovadamente benignos, ou seja, foi descartada qualquer outra possibilidade).
Se for Birads III, não se desespere. (Eu me desesperei) Mas nessa categoria, há menos de 2% de chance de malignidade. Explico:
Nessa categoria estão inclusos basicamente todos os nódulos benignos que ainda não puderam ser investigados. Geralmente, é feito um acompanhamento de 6/12 e 24 meses antes da lesão se tornar Birads II. Às vezes pode mudar de tamanho, às vezes pode até sumir. A conduta quem dirá é o mastologista. Ah, IMPORTANTE: não consulte apenas um ginecologista, consulte um especialista em mamas sempre. Ele vai tirar suas principais dúvidas. A possibilidade de um nódulo circunscrito (margens definidas), oval ou redondo, hipoecoico, de orientação paralela à pele, ser maligno é praticamente NULA. E era esse o tipo de nódulo que eu tinha. Só que ele necessita de acompanhamento, caso ocorra alguma mudança, é bom estar atento. No meu caso, optei pela biopsia para não sofrer esperando meses até ficar tranquila. O resultado foi: alterações fibrocísticas - cisto, fibrose estromal. Então não tive o fibroadenoma em si (que é um nódulo benigno comum em mulheres jovens de até 35/40 anos, mas tive alterações fibrocísticas benignas (provavelmente resultantes da bomba de hormônios).
A classificação Birads IV engloba os níveis a, b e c. Cada um com uma porcentagem de VPP (valor preditivo positivo para malignidade). Sendo crescente de a para c. No entanto, muitos nódulos e cistos podem ter aparência suspeita durante os exames de imagem, o que não significa que são malignos, porque a mama é complexa e calcificações e outras alterações podem imitar tumores. Por isso, no caso de Birads IV, é necessária a biopsia, que pode ser core ou pode ser feita de forma tradicional, invasiva, caso o médico julgue necessário, dependendo do tamanho e da localização da lesão.
O Birads V é uma lesão altamente suspeita, 95% de chances de malignidade e quanto antes for feita a retirada, melhor.

O Birads 0 nada mais é uma lesão difícil de discernir, não é possível dizer se é cística, calcificada, nodular. Por vezes, a localização impede essa classficação. Por isso, não se desespere e faça novamente o exame ou até mesmo outro exame, como ressonância.
Quanto à categoria Birads VI, esta serve apenas para quem já possui o câncer e acompanha através de exames de imagem.

É importante fazer os exames anualmente, mesmo que antes da idade padrão. A ultrassom não causa nenhum dano e é um exame de rastreio muito importante, principalmente para mulheres jovens. Eu fiquei um anos sem fazer e o cisto apareceu, felizmente era benigno, mas e se não fosse e eu tivesse seguido o padrão de 24 meses? E se eu decidisse chegar aos 35 para fazer o primeiro exame? Por isso, meninas, cuidem-se! Quanto antes, melhor. 

Coisas que todas devem saber:

1. Ter alguém na família com câncer de mama não é uma sentença. Vários fatores englobam os riscos e, caso você não tenha o gene da mutação, que ocorre em uma porcentagem pequena, você corre o mesmo risco do que quem não tem ninguém com câncer na família.
2. Cigarro aumenta o risco de câncer de mama.
3. Álcool, se ingerido regularmente, aumenta o risco de câncer de mama.
4. Soja, dependendo de como é consumida, aumenta o risco de câncer de mama.
5. Praticar exercícios reduz o risco de câncer de mama.
6. Alimentar-se corretamente reduz o risco de câncer de mama.
7. Próteses mamárias NÃO aumentam o risco de câncer de mama.
8. Ter sido mãe antes dos 30 reduz o risco do câncer de mama.

Portanto, bora se cuidar?

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Nuvem pesada

Faz tempo que não escrevo aqui. Quando estou em crise constante, eu tenho imensa dificuldade de escrever. 

Se o assunto é saúde, posso afirmar que a ansiedade é 100%. Ainda estou por conta do cisto e dos miomas, tomando progesterona (dienogeste 2mg). Mas a cada dorzinha diferente que aparece, cada mal estar que sinto (de vez em nunca), eu já associo a uma doença mortal. Fui tirar uma pinta e estava preocupada com outra pinta que tinha na mão. Diagnostiquei, óbvio: melanoma. Melanoma metastático. Porque, afinal, eu já estava com dores em várias partes do corpo. E o pior: nem sol eu tomo. A minha sala nem janela pra rua tem. Era azar demais. Chegando ao consultório, o médico olhou e disse "não é uma pinta, é um machucado cicatrizando" e arrancou de uma vez a casca. Ufa, menos uma coisa, pensei. 
Todo dia. Todo santo dia tem uma coisa pra me atormentar. Pra me fazer perder horas no Google e horas de sono. Tem dias que cismo que minha perna tá estranha, que não sei andar. Que tô com os dentes moles e tenho alguma coisa na minha barriga. Na cabeça, então!

A ansiedade é um tormento constante e infinito. O remédio me ajuda a colocar as ideias no lugar, mas não em crise. Quando estou em crise, só melhora quando consigo pegar no sono. Quando acordo, volta o tormento. É uma luta diária para não sucumbir. Para não afundar e ali permanecer. 

Sabe aqueles sonhos que não conseguimos enxergar? Que parece que a visão está turva e escura? Ansiedade é isso. Mas estando acordado. Parece uma nuvem escura na vista, acompanhada de um peso que a gente arrasta sem saber como. 

Às vezes sinto vontade de ficar fechada em um cubículo sem janelas e sem contato com o mundo. Pra ver se eu melhoro. Se nada me abate. Se a ansiedade vai embora. Mas quando eu penso que ela tá quase indo, vem uma avalanche. "Pensa positivo", "você é muito paranoica", "você sabe que é da sua cabeça, então relaxa". R E L A X A, as pessoas dizem. Difícil quando você não consegue sequer compreender o estado em que se encontra pra poder evoluir, migrar, melhorar. Sigo na busca do autoconhecimento, na teoria é bem fácil.

Bem fácil mesmo. Qualquer leigo diz "calma" e tudo melhora assim, em um estalar de dedos.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Endometriose de ovário e útero miomatoso


Olá, terráqueos.

Demorei porque não estava conseguindo me concentrar e escrever nada, porque passei por umas situações que me deixaram mais ansiosa e não pude ter equilíbrio para me expressar.
Bom, eu tinha descoberto aquele cisto, certo? Certo. Porém, na ultrassom de acompanhamento, deu que eu tinha um endometrioma. Quando voltei à médica, ela pediu uma segunda ressonância, com preparo intestinal (coisa mais horrível) para verificar se eu tinha endometriose. Eis que na ressonância não apareceu nenhum foco de endometriose (isso porque foi a segunda ressonância) e o cisto tinha aumentado. A médica receitou o Allurene (dienogeste - progesterona sintética cheia de contraindicações) e eu meio que surtei e fui ver outras opções. Voltei ao Dr. Heraldo, que me recomendou cirurgia. Passei em uma médica chinesa, que, além de recomendar cirurgia, sugeriu que meu cisto poderia ser maligno. Fiquei desesperada. Fiz uma última ultrassom com doppler e deu sem fluxo detectável – para quem não sabe, quando não há fluxo no cisto é porque não há vascularização, então ele é provavelmente um cisto de conteúdo líquido e benigno, menos preocupante. Passei novamente no Dr. Adelino Silva, excelente médico e cirurgião, que me recomendou, assim como a Dra. Maria Ignez, tomar o Allurene, que começo no meu próximo ciclo menstrual. Isso para resumir, porque tenho muito a falar sobre as minhas "doenças".
Foi assim: eu fiz uma ultrassom pélvica para verificar se eu poderia colocar o DIU, se estava tudo em ordem. Apareceu um cisto e um mioma. Porém, conforme eu ia acompanhando para ver se o cisto era apenas funcional (aquele que desaparece após alguns ciclos da menstruação e é inofensivo), apareceram mais miomas. Os miomas são tumores benignos do útero, porém podem causar dor, sangramento, incomodar e dificultar a gravidez (no meu caso, tanto faz, porque não pretendo ter filhos). Eu não tenho nenhum sintoma, então foi uma surpresa para mim. Mas eu não me preocupei com os miomas e sim com meu cisto, que tinha características que não condiziam com um cisto simples funcional. E por quê? Porque um cisto funcional é anecoico geralmente, tem paredes finas e lisas, sem excrescências ou lobulações, septos ou papilas. Anecoico significa que seu conteúdo é totalmente líquido, ou seja, não produz eco na ultrassonografia. Na primeira ultra, deu cisto de conteúdo denso, paredes espessadas e irregulares com componente sólido. Sério, joguem isso no google e tirem suas conclusões. Eu SURTEI. Eu surtei muito. Tanto que agora, de tanto pesquisar, inclusive em outros idiomas, eu sei ler ultrassom pélvica e entender ressonância magnética. Foi um longo caminho percorrido até onde estou. 
Na minha ultrassom feita no Dr. Consulta (aquele dia que eu surtei) dizia que o cisto tinha paredes regulares, porém seu conteúdo era espesso e hipoecoico (ou seja, transmite uma quantidade mínima de ecos) o que pode significar algum componente sólido. O que eu não sabia e a experiência médica me ajudou a compreender é que esse tal componente sólido pode ser sangue. Sim, SANGUE! Sangue coagulado. E, oras, um cisto hemorrágico é composto de quê? Assim como um cisto de corpo lúteo e um endometrioma. Então, um componente sólido pode ser várias coisas: uma massa sólida crescendo dentro do cisto (neoplásica benigna ou maligna mas que necessariamente DEVE ser retirada) ou um coágulo. E, para descobrir, precisei fazer a ressonância, que deu o seguinte resultado: conteúdo hemático/ proteico (sangue!). Se fosse um teratoma (aquele cisto que falei na outra postagem, que é benigno, mas tem cabelo e dente - bizarro), teriam aparecido diferentes tipos de tecido na RM. Se fosse uma neoplasia, o conteúdo não seria somente hemático/proteico - apesar de algumas neoplasias, como um cisto mucinoso, apresentarem conteúdo proteico (muco), não necessariamente hemático. Mas daí o diagnóstico diferencial: tumores mucinosos possuem septações, geralmente espessas, e os serosos (que possuem um líquido ralo em seu interior) possuem excrescências papilares em suas paredes (geralmente espessas e irregulares), esses dois cistos podem ser benignos ou cancerígenos metastáticos, dependendo da velocidade do seu crescimento e de suas características (outras a serem levadas em conta como líquido livre na cavidade pélvica, outros focos no peritônio, útero e bilateralidade do cisto). Bom, meu último exame foi a US com doppler colorido. O que esse Doppler significou? Não há fluxo presente nas paredes do meu cisto, nem nas partes sólidas. Ou seja: é sangue, não existe uma vascularização que signifique o crescimento de uma suposta massa.


Eu vou tomar o medicamento para endometrioma (cisto composto de sangue e tecido do endométrio, característico de quem possui endometriose - doença que causa infertilidade e múltiplos focos em diversos locais do sistema reprodutor e até intestino), porém não temos certeza se meu cisto é realmente um endometrioma ou outro tipo de cisto hemorrágico (benigno), devido às suas características: conteúdo hipoecogênico, espesso, com finos debris em seu interior, paredes irregulares e lobuladas, com reforço acústico posterior (isso significa que seu conteúdo é predominantemente líquido, é algo benigno) e sem fluxo ao doppler. Porém, o remédio serve para ambos, porque regula os hormônios. 
Também desde a ressonância, meu cisto reduziu 0,8cm (isso é coisa pra caralho, viu!) ele estava com 4,5 e foi para 3,7cm. Eu estou tomando suplementação de graviola, chá de uxi amarelo e unha de gato (tem gosto de morte em estado líquido, mas tem me ajudado e acho que meus cisto diminuiu por causa dessa mistura). Agora vou esperar, tomar o remédio que o médico indicou (fazer o quê), passar em um homeopata (pra tratar também a maldita ansiedade que não me deixa viver). E, por enquanto, chega de exames! Não aguento mais. Quero agradecer à Dra. Rachel Khae Len Chen, uma fofa que realizou minha ultra pélvica no Cura Imagem e Diagnóstico e liberou o resultado no mesmo dia. By the way: prefiram o Cura a qualquer outro laboratório no que concerne a imagens. O Femme é ótimo e te trata muito bem, mas a resolução da imagem deixa bem a desejar. 
Enfim, será que estou ansiosa? Tenho um bolo de resultado de exames, ultrassom, ressonância, sangue CA 125 e outras proteínas, uma conta enorme de Uber de tanto andar para lá e para cá e um cansaço imenso, mas mental. 

Sem cirurgia. Vamo que vamo.
Não foi dessa vez, morri por dentro para renascer mais forte e mais viva.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Aceitação e fase de transição



Muito eu tenho falado sobre a aceitação, porque me descobri aceitando as coisas e elas passaram a ser mais fáceis depois que eu me percebi fazendo isso. É difícil admitir, nós batemos o pé mesmo, não queremos que as coisas sejam diferentes do que temos em mente ou planejamos. Mas, na prática, o discernimento torna-se necessário. Necessário para diferenciarmos o que podemos mudar e o  que devemos aceitar. Apesar de impaciente, sempre soube me policiar para aceitar, sem delongas, muitas lamentações ou relutância abundante, as coisas que a vida me ofereceu. As coisas para as quais vim parar nesse universo. 
As pessoas reclamam muito, mas preferem ficar confinadas em uma penumbra, um mar de escuridão, o fundo do poço, um lugar, deveras, confortável. Está escuro, mas lá não é necessário que você cresça, corra riscos, se desafie. E, embora pareça um lugar horrível, e, de fato, seja, quando se acostuma a ele, torna-se familiar viver nele. É como um lar postiço, do qual você não consegue sair (e muitas vezes nem quer, lá não bate Sol, e o medo de se queimar?).
Eu estou em uma fase de transição, depois de muita, muita loucura, estou tentando me desvencilhar de alguns hábitos compulsivos de arrumação, organização e rotina. Tenho folgado nos horários, trocado os programas, saído a lugares diferentes, sozinha, acompanhada, com amigos, com pessoas diferentes. Comido outras comidas, me interessado por hobbies diferentes. Não tem sido fácil. Quando eu olho no relógio a hora que eu deveria estar fazendo determinada coisa, dá um frio na bariga, de viver perigosamente sem estender a roupa no horário. Mas tem passado.
Tenho sido bem sincera (mais ainda), não tenho guardado absolutamente nada para mim. Isso talvez eu não recomende, porque algumas dessas coisas são o caos. As pessoas não entendem o seu lado, confundem as coisas. Mas não seria eu se guardasse, não seria eu se não revelasse algumas verdades que deixam as pessoas com as pernas bambas e chocadas, sem rumo e de cabelo em pé!
No entanto, tenho enfrentado um problema. As pessoas, elas estão fechadas. Totalmente fechadas em seus mundos imaginários. Elas amam as suas rotinas e seus pequenos prazeres sagrados. Elas não estão abertas a experiências fora de suas zonas de conforto. E outra coisa que sempre me incomodou: preguiça. A preguiça humana é uma coisa nojenta. Descansar é uma coisa, morrer em vida é outra. Se você quer tempo livre só pra dormir e descansar, morre logo, que diferença faz? Eu estou disposta. Muito disposta. Estou listando um a um os amigos que negligenciei. Remarcando todos os cafés, chás, sucos. Tem horas que ainda surto e é incômodo. Não é nem uma tentativa de ser menos egoísta, na verdade é uma abordagem em função de mim mesma. Algo que estou tentando e até agora estou conseguindo.
A ansiedade nos priva de pequenos prazeres que deveriam ser coisas automáticas e simples. Mas aceitar essa condição e sair da zona de conforto tem sido um desafio pra mim.


Eu só quero viver em paz, me desligar das preocupações e ser relativamente normal, pelo menos de longe. :)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O cisto da ansiedade



Olá, terráqueos!

Tem um tempo que não venho aqui, porque quando a crise tá brava eu não consigo escrever nada.
Pois bem, vou contar uma história que aconteceu comigo entre o mês passado e ONTEM. 

Fui à ginecologista, a fim de parar de tomar anticoncepcional e colocar DIU de cobre. Ela solicitou que eu fizesse alguns exames de rotina, embora eu já tivesse feito há seis meses, teria que repetir para garantir. Normal.

Tentei agendar no Femme, que é um laboratório que eu gosto muito, mas eles só tinham horários esdrúxulos e eu queria fazer logo. Agendei então no Salomão Zoppi. E é aí que a minha saga começa.

No dia dos exames estava tudo bem, já fazia duas semanas que eu tinha parado o anticoncepcional, eu não estava sentindo nada, nem dor, nem inchaço, nem mal estar. Eis que fui fazer uma ultrassom para ver como estavam os ovários e o útero e a moça (sim, moça, era mais nova que eu) solta: "Você tem um cisto aqui!". E eu falei "Tenho, moça, já tinha saído na outra ultrassom." (a gine tinha me explicado que era super normal aquele tipo de cisto, que eles sumiam com o tempo, que eram de ovulação etc.). Aí ela olhou meu exame antigo e falou "Nossa, seu cisto cresceu, era pra ele ter sumido já". Eu, como toda ansiosa hipocondríaca paranoica, já gelei. Então, ela continuou tecendo diversos comentários: "Talvez tenha que tirar, hein. Tem que investigar isso". "É um endometrioma? Ah, acho que é mucinoso". "Pelo menos não vejo vascularização, mas tem que olhar isso". 

EU ENTREI EM PÂNICO. Eu, apesar de pesquisar coisas sobre doenças, nunca havia pesquisado sobre os cistos de ovário. Saí de lá andando meio sem rumo e comecei a jogar o que eu lembrava no google. "Mucinoso" aparecia cisto e câncer. "Endometrioma" aparecia endometriose. Ou seja: de um jeito ou de outro eu estava ferrada, ferradíssima. O laudo sairia na sexta, era quarta. Eu aguentaria esperar? Óbvio que não. Nisso, minha gineco entrou de recesso de uma semana. Não tinha para quem pedir outro exame (eu queria refazer e ver o que o ultrassonografista diria dessa vez, para quem não sabe, esse tipo de ultrassom só é feito por ginecologistas formados). Fui até o Dr. Consulta, paguei uma consulta e um exame. O ultrassonografista, moço também, não disse nada, apenas que eu deveria levar ao meu médico o resultado. Cheguei em casa e comecei a pesquisar loucamente sobre cistos. O resultado era "cisto complexo" e o que seria um cisto complexo? Essa nomenclatura, embora ultrapassada, indicava que meu cisto não era um cisto que sumiria com o tempo, mas que precisaria ser retirado. PÂNICO DE NOVO. Fiquei ligando na lista inteira do convênio pra ver se tinha um encaixe. Consegui com o Dr. Heraldo Piva, um senho maravilhoso, prestativo, que tentou me acalmar, dizendo que apesar do resultado, ele achava que poderia se tratar de um cisto de corpo lúteo hemorrágico, que desapareceria com o tempo ou poderia tomar medicamento. Eu saí de lá menos pior, mas ele disse que não poderia continuar com meu caso, pois ele operaria uma hérnia, então me indicou o Dr. Adelino Silva. O Dr. Adelino disse a mesma coisa, foi ótimo, muito querido e me pediu uma ressonância detalhada, para ver o mioma e o cisto e um exame de marcadores tumorais (para quem não sabe, marcadores tumorais são antígenos liberados no sangue quando se tem determinado tipo de tumor ou câncer, que podem estar elevados em determinadas neoplasias). Dr. Adelino disse que achava se tratar de um corpo lúteo ou, no máximo, de um teratoma (tumor benigno do ovário, que é preciso ser retirado, que nasce com dente, pele e cabelo, pasmem, mas não é prejudicial). Ainda assim, a ideia de laparoscopia me deixava nervosa. E se abrissem e achassem de tudo na minha barriga? Fiz os exames de marcadores, todos deram negativo. Apesar disso, eu lia no Google que esses exames eram inconclusivos, poderiam ter falsos negativos e os valores aumentados não significavam necessariamente algum tumor, mas poderiam estar altos em pessoas saudáveis ou com doenças ginecológicas benignas. Sufoco. Nisso, peguei o exame no Salomão Zoppi. "Cisto unilocular com componente sólido, paredes irregulares e líquido espesso". Lógico que eu fui jogar no Google. Lógico que o resultado foi horrível. Eu li e reli sobre o assunto mil vezes (e isso tudo durou duas semanas, do tempo que fiz a ultrassom, até o resultado da ressonância). Eu li em inglês. Eu aprendi a ver cistos na ultrassom. Eu aprendi a entender a ultrassom. Eu aprendi termos de ultrassom. Eu li um tratado de ginecologia. Eu li em espanhol. Tinha sites que o Google me avisava "Você já acessou esse site 5 vezes". E eu ia até a página 20 do Google. Eu jogava termos nas imagens. E o que me assustava era "componente sólido é indicativo de malignidade". E isso era unânime. O que eu ignorava era: mulheres na menopausa são mais propensas a ter doença maligna, cistos menores que 5cm são geralmente inofensivos. O meu tinha 3,5cm, 6mm a mais que há 6 meses. Eu achava muito. Um absurdo. Lia relatos de pessoas com cistos de 20, 30cm. Histórias horríveis. Relatos no youtube. A mesma obsessão e até pior do que quando achei que tinha esclerose múltipla.

Pedi adiantamento de resultado de um dia, tive que ir no reclame aqui, esperei mais. Fui bem atendida na ressonância do Femme, fui mal atendida no telefone. Nisso, minha ginecologista voltou do recesso, pediu o CRM da moça que havia feito a ultrassom (aquela primeira que me desesperou) e disse que ia tomar providências (será que demiti alguém sem querer?). Ela me passou o whatsapp dela (Dra. Maria Ignez é a melhor que há!) e disse que me encaixaria em uma consulta hoje e que eu poderia enviar o laudo pra ela por e-mail ou whatsapp. 

O resultado saiu. Dia 02/02, dia de Iemanjá, minha orixá <3 mãe, conselheira, que me acalma e me guia. Eu tremia, não conseguia abrir. Hiperventilei o restante do dia. Quando eu abri o resultado foi: "Corpo lúteo hemorrágico". (A mesma coisa que o Dr. Heraldo tinha me dito láááá atrás, sem nem saber detalhes específicos do meu exame. Dr. Heraldo é porreta!). Eu tinha um cisto hemorrágico esse tempo todo. Uma coisa nada a ver, que ocorreu provavelmente porque parei de tomar o anticoncepcional. Não era sequer o mesmo cisto. Agora tenho que esperar e ir fazendo exames pra ver se ele diminui ou some, caso contrário, tomar remédio.

E SÓ! Só isso e eu fiquei sem comer, sem dormir, sem respirar, sem conseguir me concentrar em NADA. Eu emagreci quase 3kg. Eu perdi a vontade de tudo que eu gostava, por desespero, por ansiedade, mesmo tomando a dose máxima de escitalopram e buspirona.

E tudo isso começou porque lá atrás a Dra. Bruna (não vou falar o sobrenome) decidiu dar o meu diagnóstico sem conhecer meu histórico, atirando pra tudo quanto é lado, me desesperando e dizendo que eu deveria correr investigar. Os médicos precisam de tato, saber lidar com pacientes, entender o que é ansiedade. Não é assim, não se diz algo na lata, não se tira conclusões precipitadas e fala pro paciente!

Quanto sufoco! Eu me sentia em uma sala escura, com uma janela cuja luz diminuía a cada dia. Eu estava presa dentro de mim e sendo consumida pela ansiedade. Alívio descobrir que não era nada do que eu imaginava? Em partes, porque sei que se algo parecido ocorrer novamente, eu vou ficar do mesmo jeito.  

Apenas mais um dia na vida de um ansioso. Mais uma semana, mais um mês. Preocupação que não vai embora. Imediatismo latente. 

Cada dia um novo pesadelo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O estado sempre alerta


A ansiedade nada mais é do que uma preocupação excessiva. Uma preocupação mórbida, a incapacidade de viver em paz se não puder ter controle de todos os acontecimentos. Ser ansioso é ser intransigente. Porque o ansioso ele não quer viver na dúvida, então ele cria certezas, certezas que englobam pessimismo, tragédias e catástrofes. 
Um estado de alerta é criado pela ansiedade. O cérebro não desliga nunca, ele fica obcecado, persistente, contumaz. E, na ânsia de ter controle de tudo, acaba-se por não ter o controle de nada. O corpo humano é tão maravilhoso, que pode fazer coisas incríveis e, muitas vezes, apenas conseguimos notá-las quando o utilizamos de maneira prejudicial. Esse estado de alerta, durante a ansiedade, é tão impecável e de tamanha acurácia, que os sentidos funcionam além de sua capacidade. Os sentidos começam a transbordar. No entanto, o estresse e o pensamento acelerado fazem com que essa mistura gere sintomas indesejados no corpo, aqueles velhos conhecidos: formigamentos, pontadas, parestesias, visão embaçada, dupla, suor, falta de ar, tontura, dor de cabeça e mais um monte de coisa que estamos cansados de sentir.
E, na gana de controlar tudo isso, o estado de alerta começa a se antecipar aos sintomas provocados pela própria ansiedade, que são confundidos com inúmeras doenças, mas nunca nenhuma em especial se encaixa, porque geralmente os sintomas são generalizados. Esse estado nos faz prestar atenção nos próprios batimentos cardíacos, na forma como andamos, na nossa respiração, na visão e em toda percepção dos sentidos, incluindo a deglutição. Essa percepção aguçada faz com que achemos estranho sentir tudo isso, porque, até então, tudo isso nos passa despercebido, estamos no modo automático diariamente, não ficamos fiscalizando nosso corpo, por isso, o cérebro nos avisa quando existe algo errado. Mas o cérebro, nesse momento, está concentrado, usando cabresto, produzindo sensações das mais diversas, efeitos colaterais de cargas de estresse e nervoso, e a cisma aumenta. 
Quem nunca viu o sintoma de uma doença e achou que tinha? Já tive tantas. Nas reportagens, nos livros de Ciências, na televisão. Quando eu estava na segunda série meu maior medo era ter vermes, em especial, tênia. A foto no livro era assustadora, ela parecia ter um olho, vocês já viram?
O que um ansioso precisa é: RELAXAR. Mas dá? Quando alguém nos diz isso parece algo completamente inalcançável. Pensamos: "Essa pessoa não sabe o que está falando, empatia é luxo". Pode até não saber, mas que a solução é essa, teoricamente, isso é.
Como desligar? Como? Quando estou no estágio máximo de ansiedade, prestes a entrar em colapso, ter uma crise, eu não consigo me concentrar em nada além do meu problema no momento. Nada, nem na comida que eu gosto, nem nas coisas que mais gosto de fazer. E isso é muito difícil de driblar, é uma barreira quase que intransponível, não é um botão. As pessoas precisam estar conscientes disso: NÃO É UM BOTÃO. Ninguém toma inibidor seletivo de recaptação de serotonina por livre e espontânea vontade. 

Então fica nisso: nós temos que relaxar, mas o caminho definitivamente NÃO É alguém vir dizer: VOCÊ PRECISA RELAXAR. Porque esse caminho, amigos, esse caminho piora tudo. Além da pessoa demonstrar que não compreende MESMO o que você está passando, você se sente mais sozinho, mais incompreendido, mais ansioso e ainda por cima fica com vontade de dar na cara dela com uma chinela de madeira.

Esse estado de alerta é tão difícil de sair, que vira e mexe me pego hiperventilando, com falta de ar, por ficar consciente da minha respiração. E eu estou em tratamento, eu estou ciente do meu estado e tenho pessoas que me ajudam. E quem está sozinho? Eu não consigo fazer os exercícios de respiração. Eu sou tão ansiosa que no 3 eu já não aguento mais fazer. Não é simples. Não tem uma fórmula. Não é clicar em uma reportagem da Galileu sobre "como ansiedade é ruim, veja essas dicas" que vai te fazer melhorar. "Durma melhor, seja saudável, faça o que gosta, respire devagar". São muitos imperativos e pouca ajuda efetiva. A quem deseja ajudar: imperativos são ineficientes. "Você precisa, você deve, relaxe, fique calmo(a), durma, coma, sente, pense, faça, seja...". 

A melhor coisa a fazer com um ansioso é TER PACIÊNCIA e OUVIR. E, caso você seja o ansioso da vez, eu indico autoconhecimento. Estude a si mesmo. Procure se entender, entender seu corpo, isso ajuda muito a te dar aquela ocasional tranquilidade. 

"Chás ajudam" chá ajuda quem quer ser ajudado. Chá ajuda quem acredita que o chá ajuda. Chá, sozinho, não ajuda ninguém.

Então, menos palpite aí.

Até!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Sobre os sintomas da ansiedade


Olá, classe.

Hoje eu tô aqui para falar novamente sobre os sintomas que eu tenho quando estou em crise de ansiedade (porque ansiosa eu estou o tempo inteiro). Eu já falei sobre esse assunto aqui mais de uma vez, mas queria falar novamente, porque sempre é bom mostrar para que as pessoas se identifiquem.

Falta de ar: Esse é meu primeiro sintoma, eu tenho muita falta de ar, começo hiperventilar, respirar curto ou fazer muita força para respirar fundo. Parece que meus pulmões estão entrando em colapso. Geralmente, quando o médico mede o oxigênio, está bom e o pulmão não tem chiado. Isso é um sinal que a falta de ar é consequência da ansiedade.

Suor: Suor, frio de preferência. Acompanhado daquela quentura que vai dos pés à cabeça.

Tremor: Mãos e pernas tremendo, pernas desobedecendo, sensação de fraqueza.

Pontadas: Pontadas e alfinetadas em várias partes do corpo. Pernas, braços, barriga. 

Tontura: Sensação de estar flutuando, como se tivesse pisando em nuvens.

Visão turva: Sensação de que não estou enxergando, como se tivesse algo embaçando minha visão.

Coração acelerado: A milhão mesmo, como se fosse sair da boca.

Formigamento: Nos braços, nas mãos e pernas. Às vezes no rosto.

Dor na barriga: Como uma cólica, junto com um enjoo.

Falta de fome: Quando estou ansiosa não consigo comer nada. Posso ficar assim por dias. Antigamente, quando era bem mais magra, virava um palito.

Insônia: Dormir? Impossível. Quando durmo, tenho pesadelos ou paralisia do sono.

Moscas volantes: Aqueles pontinhos pretos na visão, sabe? Em períodos de mais ansiedade, eles são mais aparentes. Ah, estão em um olho só, sabe-se lá por quê.

Tremor nas pálpebras: Espasmos nos olhos. Às vezes só em um, às vezes nos dois. Às vezes até no nariz e na boca. 

Sensação de estar sumindo: Como se um buraco estivesse aberto e você estivesse entrando nele, tudo ficando escuro e você estivesse sumindo.

Tristeza e vontade de chorar sem motivo aparente: Tudo está ok. Mas eu choro muito, sem necessariamente precisar de algo concreto.

Essas são algumas coisas principais que consigo lembrar. E você, quais são os seus sintomas?