sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O cisto da ansiedade



Olá, terráqueos!

Tem um tempo que não venho aqui, porque quando a crise tá brava eu não consigo escrever nada.
Pois bem, vou contar uma história que aconteceu comigo entre o mês passado e ONTEM. 

Fui à ginecologista, a fim de parar de tomar anticoncepcional e colocar DIU de cobre. Ela solicitou que eu fizesse alguns exames de rotina, embora eu já tivesse feito há seis meses, teria que repetir para garantir. Normal.

Tentei agendar no Femme, que é um laboratório que eu gosto muito, mas eles só tinham horários esdrúxulos e eu queria fazer logo. Agendei então no Salomão Zoppi. E é aí que a minha saga começa.

No dia dos exames estava tudo bem, já fazia duas semanas que eu tinha parado o anticoncepcional, eu não estava sentindo nada, nem dor, nem inchaço, nem mal estar. Eis que fui fazer uma ultrassom para ver como estavam os ovários e o útero e a moça (sim, moça, era mais nova que eu) solta: "Você tem um cisto aqui!". E eu falei "Tenho, moça, já tinha saído na outra ultrassom." (a gine tinha me explicado que era super normal aquele tipo de cisto, que eles sumiam com o tempo, que eram de ovulação etc.). Aí ela olhou meu exame antigo e falou "Nossa, seu cisto cresceu, era pra ele ter sumido já". Eu, como toda ansiosa hipocondríaca paranoica, já gelei. Então, ela continuou tecendo diversos comentários: "Talvez tenha que tirar, hein. Tem que investigar isso". "É um endometrioma? Ah, acho que é mucinoso". "Pelo menos não vejo vascularização, mas tem que olhar isso". 

EU ENTREI EM PÂNICO. Eu, apesar de pesquisar coisas sobre doenças, nunca havia pesquisado sobre os cistos de ovário. Saí de lá andando meio sem rumo e comecei a jogar o que eu lembrava no google. "Mucinoso" aparecia cisto e câncer. "Endometrioma" aparecia endometriose. Ou seja: de um jeito ou de outro eu estava ferrada, ferradíssima. O laudo sairia na sexta, era quarta. Eu aguentaria esperar? Óbvio que não. Nisso, minha gineco entrou de recesso de uma semana. Não tinha para quem pedir outro exame (eu queria refazer e ver o que o ultrassonografista diria dessa vez, para quem não sabe, esse tipo de ultrassom só é feito por ginecologistas formados). Fui até o Dr. Consulta, paguei uma consulta e um exame. O ultrassonografista, moço também, não disse nada, apenas que eu deveria levar ao meu médico o resultado. Cheguei em casa e comecei a pesquisar loucamente sobre cistos. O resultado era "cisto complexo" e o que seria um cisto complexo? Essa nomenclatura, embora ultrapassada, indicava que meu cisto não era um cisto que sumiria com o tempo, mas que precisaria ser retirado. PÂNICO DE NOVO. Fiquei ligando na lista inteira do convênio pra ver se tinha um encaixe. Consegui com o Dr. Heraldo Piva, um senho maravilhoso, prestativo, que tentou me acalmar, dizendo que apesar do resultado, ele achava que poderia se tratar de um cisto de corpo lúteo hemorrágico, que desapareceria com o tempo ou poderia tomar medicamento. Eu saí de lá menos pior, mas ele disse que não poderia continuar com meu caso, pois ele operaria uma hérnia, então me indicou o Dr. Adelino Silva. O Dr. Adelino disse a mesma coisa, foi ótimo, muito querido e me pediu uma ressonância detalhada, para ver o mioma e o cisto e um exame de marcadores tumorais (para quem não sabe, marcadores tumorais são antígenos liberados no sangue quando se tem determinado tipo de tumor ou câncer, que podem estar elevados em determinadas neoplasias). Dr. Adelino disse que achava se tratar de um corpo lúteo ou, no máximo, de um teratoma (tumor benigno do ovário, que é preciso ser retirado, que nasce com dente, pele e cabelo, pasmem, mas não é prejudicial). Ainda assim, a ideia de laparoscopia me deixava nervosa. E se abrissem e achassem de tudo na minha barriga? Fiz os exames de marcadores, todos deram negativo. Apesar disso, eu lia no Google que esses exames eram inconclusivos, poderiam ter falsos negativos e os valores aumentados não significavam necessariamente algum tumor, mas poderiam estar altos em pessoas saudáveis ou com doenças ginecológicas benignas. Sufoco. Nisso, peguei o exame no Salomão Zoppi. "Cisto unilocular com componente sólido, paredes irregulares e líquido espesso". Lógico que eu fui jogar no Google. Lógico que o resultado foi horrível. Eu li e reli sobre o assunto mil vezes (e isso tudo durou duas semanas, do tempo que fiz a ultrassom, até o resultado da ressonância). Eu li em inglês. Eu aprendi a ver cistos na ultrassom. Eu aprendi a entender a ultrassom. Eu aprendi termos de ultrassom. Eu li um tratado de ginecologia. Eu li em espanhol. Tinha sites que o Google me avisava "Você já acessou esse site 5 vezes". E eu ia até a página 20 do Google. Eu jogava termos nas imagens. E o que me assustava era "componente sólido é indicativo de malignidade". E isso era unânime. O que eu ignorava era: mulheres na menopausa são mais propensas a ter doença maligna, cistos menores que 5cm são geralmente inofensivos. O meu tinha 3,5cm, 6mm a mais que há 6 meses. Eu achava muito. Um absurdo. Lia relatos de pessoas com cistos de 20, 30cm. Histórias horríveis. Relatos no youtube. A mesma obsessão e até pior do que quando achei que tinha esclerose múltipla.

Pedi adiantamento de resultado de um dia, tive que ir no reclame aqui, esperei mais. Fui bem atendida na ressonância do Femme, fui mal atendida no telefone. Nisso, minha ginecologista voltou do recesso, pediu o CRM da moça que havia feito a ultrassom (aquela primeira que me desesperou) e disse que ia tomar providências (será que demiti alguém sem querer?). Ela me passou o whatsapp dela (Dra. Maria Ignez é a melhor que há!) e disse que me encaixaria em uma consulta hoje e que eu poderia enviar o laudo pra ela por e-mail ou whatsapp. 

O resultado saiu. Dia 02/02, dia de Iemanjá, minha orixá <3 mãe, conselheira, que me acalma e me guia. Eu tremia, não conseguia abrir. Hiperventilei o restante do dia. Quando eu abri o resultado foi: "Corpo lúteo hemorrágico". (A mesma coisa que o Dr. Heraldo tinha me dito láááá atrás, sem nem saber detalhes específicos do meu exame. Dr. Heraldo é porreta!). Eu tinha um cisto hemorrágico esse tempo todo. Uma coisa nada a ver, que ocorreu provavelmente porque parei de tomar o anticoncepcional. Não era sequer o mesmo cisto. Agora tenho que esperar e ir fazendo exames pra ver se ele diminui ou some, caso contrário, tomar remédio.

E SÓ! Só isso e eu fiquei sem comer, sem dormir, sem respirar, sem conseguir me concentrar em NADA. Eu emagreci quase 3kg. Eu perdi a vontade de tudo que eu gostava, por desespero, por ansiedade, mesmo tomando a dose máxima de escitalopram e buspirona.

E tudo isso começou porque lá atrás a Dra. Bruna (não vou falar o sobrenome) decidiu dar o meu diagnóstico sem conhecer meu histórico, atirando pra tudo quanto é lado, me desesperando e dizendo que eu deveria correr investigar. Os médicos precisam de tato, saber lidar com pacientes, entender o que é ansiedade. Não é assim, não se diz algo na lata, não se tira conclusões precipitadas e fala pro paciente!

Quanto sufoco! Eu me sentia em uma sala escura, com uma janela cuja luz diminuía a cada dia. Eu estava presa dentro de mim e sendo consumida pela ansiedade. Alívio descobrir que não era nada do que eu imaginava? Em partes, porque sei que se algo parecido ocorrer novamente, eu vou ficar do mesmo jeito.  

Apenas mais um dia na vida de um ansioso. Mais uma semana, mais um mês. Preocupação que não vai embora. Imediatismo latente. 

Cada dia um novo pesadelo.

Um comentário:

  1. Como eu entendo! Sou parecida no que toca á saude!!! Mesmo sabendo que os sintomas sao psicológicos porque a causa e a ansiedade também fico logo a pensar o pior!

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