quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Desgoogleie


Quando a gente é adolescente, a gente acha que vai morrer de amor. E que essa seria a pior morte possível. Que não existe nenhuma dor física capaz de superar a dor incurável da alma em se tratando de coração partido.

Bobagem.

A gente cresce, começa a enxergar a proporção das coisas de maneira diferente. Não digo melhor, mas só diferente. Algumas coisas perdem o encanto, a doçura, outras ganham maior importância.
A ansiedade muda. Se antes, sentíamos ansiedades circunstanciais dependendo de acontecimentos, hoje, a ansiedade é um estar, um sentimento sempre presente. Se a ansiedade antes consistia em expectativas e frio na barriga, hoje vai bem além disso.
Crescendo, a gente descobre que não se morre de amor. Mas se morre de diversas outras doenças (de acordo com o Google). Cutícula mal tirada, gripe mal curada e gente mal preparada.
QUALQUER SINTOMA, estou dizendo, simplesmente QUALQUER sintoma que você tiver e jogar no Google, ele vai te trazer como uma das respostas possíveis, pelo menos, uma das três doenças a seguir: câncer, esclerose múltipla e AIDS.
Primeiro, o ansioso acha que sofre de problemas cardíacos ou neurológicos. Porque o sintoma mais característico é a palpitação, a taquicardia. Se não é infarto, é AVC (certeza, já tive vários). Passada essa fase, começa a procurar outros sintomas e é aí que ele chega nas três doenças-chave que o Google adora empurrar goela abaixo.

De manhã: AIDS. Não, AIDS não tenho, absurdo pensar isso. Nada a ver. Dor no dedo não é um sintoma de AIDS.
De tarde: A manicure nem esteriliza direito aqueles alicates. Doei sangue ano passado. E o maníaco da agulha, hein?
De noite: Meu Deus, vou morrer. Tenho AIDS.

E o ciclo recomeça no outro dia.

Amigos, vou dizer a vocês: não está fácil ser ansioso nos dias atuais. Na Idade Média, o ansioso não tinha o Google como tortura prévia de doenças. Não tinha esse leque de possibilidades.

Portanto, vou lançar aqui: desgoogleie. Vá ler um livro, ver TV, aquela série atrasada. Não é câncer. Não é AIDS. Não é esclerose e nem infarto.

Como diria meu avô “Se a gente tiver que morrer de desastre de avião, ele cai na nossa cabeça.”


Até!

4 comentários:

  1. kkkkk nooossa que massa esse texto. Eu sou desse jeito, estou tentando mudar, e estou evoluindo aos pouquinhos (bem pouqinho kk) o meu psicologo disse que na net a muita informaçao com pouco conhecimento. Com certeza a internet dependendo de como usamos ela mais atrapalha do que ajuda. beijos!

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  2. Já fiz checkup completo por conta disso, cheguei no cardiologista acreditando que teria pouco tempo de vida. O cardiologista depois de mais de cinco tipos de exames me disse que fazia tempo que não via um coração tão saudável e eu me conformei que a resposta que eu estava procurando era Ansiedade. Passei no neurologista tbm, tinha enxaqueca mas na verdade pensava que era aneurisma e ia morrer a qualquer momento. Não é fácil ser ansiosa, definitivamente não é. Já desmaiei tendo crise de ansiedade, meu braço já adormeceu, já senti falta de ar, ânsia então... nem se fala! Mas aos poucos vamos descobrindo formas de lidar com isso e sua sugestão foi um dos caminhos que adotei pra conseguir seguir sem maiores transtornos.

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    1. Viviane, eu fiz a mesmíssima coisa! Meus exames nunca dão nada. Mas qualquer alteraçãozinha já acho que vou morrer, é tenso. Tenho tentado não buscar no Google, mas é quase uma obsessão!

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