sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Como uma ideia que existe na cabeça e não... NÃO SAI NEM COM REZA BRAVA!



Todo mundo já teve uma obsessão na vida. Obsessões não são saudáveis, mas todo mundo já teve vez ou outra aquela fixação por alguma coisa. Parece que o cérebro necessita desse alimento para que você sobreviva. Quanto eu tinha 8 anos, fiquei obcecada por uma Barbie Ginasta, eu só pensava na maldita Barbie dia e noite. Depois que ganhei a Barbie, passaram-se uns dias, depois daquela sensação surreal de ter conseguido, ela perdeu a graça, como se meu cérebro tivesse sido alimentado e agora não estivesse mais com fome, ao menos da Barbie. 
A gente cresce e as obsessões mudam. Para o ansioso, as obsessões são infinitas. Acaba uma, começa outra. É uma preocupação constante que martela na cabeça, seja com doença, seja com a família, o namorado(a), as finanças e mais uma infinidade de assuntos. A gente precisa cavucar até o fundo um mesmo assunto desgastado, até alimentar o cérebro obsessivo. 
E é assim que eu me sinto em relação às doenças. Eu preciso me alimentar disso, eu preciso pesquisar, eu preciso saber mais e ficar em paz, mesmo que essa paz dure poucos minutos e outras coisas impactantes surjam na minha mente. 
Só esse ano, já achei que tinha problema no olho (várias vezes, problemas diferentes), tava tendo AVC, câncer no lábio, no colo do útero, na mama e estava ficando careca. 

Em maio, meu lábio começou a rachar por conta do frio intenso que vinha fazendo. Mesmo após hidratação e diversos cosméticos diferentes, receitas caseiras e afins, o rachado continuava, meu lábio estava áspero. Fui buscar no Goolge, lógico, porque eu precisava me alimentar disso. "Lábio áspero". Nos resultados, achei câncer bucal, câncer labial, que poderia ocorrer por exposição ao Sol. Agora, vamos ver alguns fatores:
- Minha sala não tem janelas onde bata absolutamente nenhum Sol.
- Meus batons têm protetor solar.
- Estou com a vitamina D baixa, ou seja, falta Sol MESMO.

Mas quem disse que tudo isso fez sentido? Eu tinha um melanoma sim. Certeza que aquilo era um melanoma. Depois ainda li que a incidência havia aumentado no Brasil. PRONTO. "Mas predomina em homens acima de 50 anos e fumantes". Eu era um homem acima de 50 anos fumante. Tive um surto. 

Depois de ida ao dermatologista e ao dentista, descobri que era uma alergia, alergia ridícula. 

Meu último surto foi porque fui à ginecologista para ver se podia colocar DIU e ela achou uma ferida. COMO ASSIM FERIDA, tenho CÂNCER? Fiz um montão de exames. Se não tenho câncer, tenho alguma doença grave. Esperei UMA SEMANA os exames ficarem prontos. Isso pra mim é como uma tortura medieval, um castigo de Zeus, como Prometeu que tinha seu fígado devorado e regenerado todos os dias. Pesquisei tanta coisa, mais tanta coisa. Em português, inglês e espanhol. Nunca tinha feito colposcopia e, minha nossa, BIOPSIA? Acontece que a ginecologista não me explicou direito. Não era uma ferida, mas uma troca de tecido comum em quem usa anticoncepcional, que precisava de biopsia para ver se estava contaminada. Eu recebi o resultado e fiquei em paz. Por alguns segundos. Mas "e se", "e se"... E SE? Mas o exame tá exemplar, não tem nada. MAS E SE? É desesperador. Eu me pego pesquisando doenças raras, coisas inimagináveis, porque eu preciso manter essa obsessão, eu preciso continuar pesquisando para satisfazer meu cérebro. Eu preciso ter esses pensamentos, eles são como uma substância química e eu a abstinente. 

O medo de adoecer bateu à minha porta pela primeira vez quando eu era muito pequena, após uma palestra sobre higiene bucal. Eu não dormia achando que meus dentes iriam todos cair. Às vezes ainda sonho que eles caem. 

Acontece que não é uma coisa que exige somente autocontrole, é algo que vai além do que nós podemos fazer.

Ser ansioso é um eterno masoquismo. É ver seu corpo necessitando aquilo que te prejudica. Não preciso sair, não preciso me distrair, não preciso mudar de emprego, não preeciso mudar de ares. Não é nenhum fator externo que vai mudar o que sinto. Eu não preciso de ninguém me dizendo que tenho que fazer isso ou aquilo. O que eu tenho para resolver é comigo mesma, nenhum pseudo-psicólogo (e até mesmo os psicólogos) pode me dizer. 

Como diria Oscar Wilde: No mundo, há somente duas tragédias. Uma é não ter o que se quer e a outra é ter.

Um comentário:

  1. estava com esse texto na cabeça...esse looping de procurar uma desgraça! ah...a ansiedade!

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