No dia 14 de setembro de 2015, tomei meu primeiro ansiolítico, uma dose manipulada composta de 15mg de escitalopram e 15mg de buspirona. O primeiro efeito colateral foi a dilatação das pupilas. Fui ao banheiro e, ao me olhar no espelho, logo notei algo estranho com meus olhos. Como ansiosa, a tendência é reparar em cada mínimo detalhe, cada mudança quase imperceptível do corpo. Com isso, fiquei preocupada.
Em seguida, vieram mais sintomas. Tontura, enjoo, formigamento, queimação nos membros inferiores e nas mãos, tremores, boca seca. Na mesma noite, acordei com uma crise de pânico e fui parar no hospital. Bom, o resto vocês já sabem, contei por aqui.
Mas queria fazer um balanço desse primeiro ano tomando ansiolítico.
Obviamente, o início foi o mais difícil. Noites sem dormir, efeitos colaterais severos. Acentuação da ansiedade. Eu tive uma melhora drástica no primeiro mês. Depois de cerca de 40 dias tomando o remédio, eu era outra pessoa. Tinha parado de pesquisar doenças, estava menos ansiosa, mas mais acelerada. Sempre fui acelerada, mas eu adquiri uma inquietude que não é normal. Eu simplesmente não consigo ficar parada. Se deito, quero levantar, se levanto, fico para lá e para cá, sem conseguir parar de fazer serviço. Adquiri, também, uma estranha obsessão por limpeza. Limpar me torna plena, parece que as coisas só vão para o lugar depois de fazer algum tipo de arrumação ou limpeza.
Tive dias muito difíceis, cismas, pensamentos ruins, nos primeiros meses muitos pesadelos estranhíssimos, surreais. A desconfiança com doenças não passou. Melhorou, mas não passou. Dei a mim o benefício da dúvida, resolvendo checar antes as informações sem ficar tão paranoica. Lógico que fiquei paranoica muitas vezes sim, sem dormir e achando que iria morrer. Mas são dias e dias e a gente vai vivendo um por vez. Confesso que tenho um certo medo de parar de tomar o remédio e voltar à estaca zero, àqueles dias de terror e angústia.
Mas, no geral, eu melhorei sim. Apesar das manias adquiridas, eu estou menos obcecada. Não posso dizer preocupada, porque preocupada eu estou sempre. Os pensamentos pessimistas não desocupam a minha mente. Eu imagino as piores tragédias com as pessoas que gosto, os piores acontecimentos comigo em situações diversas do cotidiano e, claro, as piores doenças.
Notei também que tenho picos de paciência e impaciência. Consigo me controlar em algumas situações, coisa que não ocorria antes. Contudo, eu explodo de maneira muito pior, descontrolada, como se o mundo estivesse desabando ao meu redor, é horrível. É um impulso que não sei dizer de onde vem nem como controlar, eu só preciso explodir, gritar, xingar, qualquer coisa. Eu até tento trabalhar na ideia de "ser um ser humano melhor", mas é um esforço que não consigo fazer no momento.
Eu estou há dois anos sem férias, vou tirar férias em outubro (agora). Confesso que estou muito cansada, mais mentalmente. Contudo, já estou preocupada com o que vou fazer, porque eu simplesmente desaprendi a descansar. Eu ando tão acelerada quanto uma criança hiperativa sem ritalina. Espero que eu consiga dormir pelo menos 8 horas, deitar e assistir televisão sem pensar nas mil coisas que assombram a minha mente.
A ansiedade é como uma sombra e, algumas vezes, está à nossa frente. Não conseguimos nos livrar porque, para nos livrar, é necessário andar na direção oposta. Mas quem consegue? Quem está disposto a andar na direção oposta de forma drástica? A ansiedade é tão implacável que, quando decidimos fazer algo a respeito, ela já tomou conta de todas as horas do dia, até aquelas poucas de sono.
Ser ansioso é como estar em um pesadelo em que as pernas não correspondem. É como ficar submerso, sem ar e, ao tentar retornar à superfície, encontrar uma camada de gelo espessa. Você até conseguiria quebrar, mas não tem forças porque ficou muito tempo sem ar.
De todas as coisas, a pior é ficar sem ar. Visão turva, pápebras tremendo, moscas volantes, tontura, dores nas pernas, formigamento, tudo isso é muito ruim. Mas quando o ar não vem, eu só fico tentando desesperadamente respirar fundo, mas só piora. E, até ter consciência de que na verdade é minha cabeça que precisa de ajuda, eu já estou sufocada.
Literalmente e metaforicamente.
Nossa, me descreveu muito. Acabei chegando no seu blog por causa das moscas volantes, vi umas 2 ou 3 vezes e já corri pra pesquisar como boa ansiosa. haha
ResponderExcluirEu também tomei escitalopram em março/2015 até dezembro/2015, foi lento e difícil o desmame por foi em uma época beeeeem conturbada de formatura e "o que eu vou fazer da vida agora". Mas agora, 10 meses sem medicação, posso dizer que é possível. São lutas diárias contra a nossa própria mente. Se quiser conversar mais meu email é ar.francys@gmail.com.
Oi, Francys! Eu continuo tomando, vou ao psiquiatra na terça-feira saber qual é o próximo passo e venho contar aqui. Estava de férias e deixei o blog meio parado, logo volto. E-mail anotado!! :)
Excluirolá Natália. Me identifiquei MUITO com você! o texto de boas vindas descreve EXATAMENTE o que estou sentindo no momento, temos o mesmo nome e eu sou jornalista/cursando Letras e desejo muito entrar nesse mercado de revisão de textos e livros... Caso você tenha tempo gostaria de conversar mais com você. Meu email é f.oliv.natalia@gmail.com.
ResponderExcluirTambém escrevo crônicas, principalmente sobre o tema que temos em comum: ansiedade.
Abs!
Oi, Natália!
ExcluirMenina, haha, veio pras Letras então?! Boa sorte! Amo essa área. Seu e-mail está anotado, estou de férias agora, em breve escreverei mais aqui também!!
Beijos
"Ser ansioso é como estar em um pesadelo em que as pernas não correspondem. É como ficar submerso, sem ar e, ao tentar retornar à superfície, encontrar uma camada de gelo espessa. Você até conseguiria quebrar, mas não tem forças porque ficou muito tempo sem ar."
ResponderExcluirCheguei aqui pq estou em uma recaída e voltando tomar medicação para a ansiedade, e ao ler esse trecho senti que alguém no mundo consegue descrever o que eu sinto.
Espero que vc melhore cada dia mais e obrigada pelo blog (:
Qnd estamos em crise sempre vem em mente que ninguém mais no mundo sente isso.
boa noite,
ResponderExcluirfaço uso do excitalopram 20mg a um ano. Hoje faz um mes que parei de tomar a medicação.
Sofro com pesadelos que me fazem acordar com um medo que nunca senti antes.
alguém passou por isso também?