Como bem ilustrou Salvador Dali, nós somos uma mera distração do tempo, um brinquedo das horas. E, quanto mais insistimos em desafiá-lo, mais perdemos tempo. Quando queremos que o tempo passe logo, ele é um conta-gotas. Quando queremos o oposto, sequer há tempo para notar que passou.
Mas o tempo é um inimigo do ansioso. Porque o ansioso, ao mesmo tempo que não tem paciência nenhuma, quer que tudo seja para ontem, ele quer que o tempo fique estagnado, para que não tenha que lidar com os problemas que podem surgir. Essa contradição faz parte da ansiedade e da depressão. Ao mesmo tempo que não há gosto pela vida, há um medo obsessivo da morte.
Insistimos nos mesmos pensamentos, nas mesmas coisas que nos atormentam. Pensar, repensar, lembrar e relembrar são coisas feitas incessantemente pelos ansiosos. Pensar essas coisas que pioram nossa situação é como um alimento ao cérebro, ele pede isso e, se não o alimentamos, parece que falta uma parte de tortura diária à qual nos submetemos grande parte da nossa vida. O corpo pede essa tortura, como se esses pensamentos repetidos fossem uma parte essencial do cérebro, que não consegue funcionar se algumas coisas não forem feitas ou pensadas, ainda que sejam prejudiciais.
A ansiedade é uma droga mais forte do que qualquer ansiolítico. O ansiolítico mexe com a serotonina, com os nervos, estômago, com a nossa percepção, é fato. Mas e a ansiedade faz o quê? Tudo isso sem precisar de um único comprimido. E é mais viciante do que qualquer benzodiazepínico. Porque, muito embora nos faça mal, não conseguimos nos desvencilhar.
Estar ansioso é como colocar os dois pés em uma areia movediça e, à medida que está afundando e tenta voltar ao topo, sente um mórbido prazer em se afundar mais e sentir a lama cobrindo os pés, o corpo e, muito em breve, a cabeça.
Por isso, não basta unicamente estar ciente de que se é ansioso. Porque a ansiedade é um vício. Ela nos toma por completo e controla todas as nossas ações. Ela existe e persiste, como o tempo. É algo que achamos que controlamos, mas não poderíamos estar mais enganados, não é mesmo?
Estar ciente é o primeiro passo. O segundo é fazer algo a respeito. Psicólogo? Terapeuta? Psiquiatra? Todos eles? Quem sabe, o que ajudar melhor. O que não pode é ceder ao vício da ansiedade. Parar de tomar o remédio antes de melhorar, ceder à ansiedade e não à voz do Psicólogo, apegar-se a essa substância viciante obsessiva, agarrar-se à areia que cobre seu corpo, em vez de buscar a superfície.
A ansiedade nos domina não só porque é algo sobre o qual não temos controle. Ela é algo sobre o qual não temos controle porque está dentro de nós e nós nos apegamos a ela, nós necessitamos dela, nós fazemos dela parte essencial, nós damos a atenção que não merece.
Para emergir não é necessário apenas consciência. É necessário consciência em movimento. Eu sei que tenho que subir. Eu sei que tenho que subir e vou fazer algo a respeito: vou subir, mas sem olhar para baixo.
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