sábado, 14 de maio de 2016

Desespero


Uns dias são piores que outros. Nós sabemos que a nossa mente nos prega peças. Nós estamos conscientes de que aumentamos as coisas, que somos ansiosos. Mas, mesmo assim, como já disse anteriormente: não é suficiente apenas saber que somos ansiosos. Lógico que nós sabemos. Mas mesmo assim continuamos encontrando diversas causas para todas as nossas reações desproporcionais. Uma mancha na pele é uma doença sem cura. Uma tosse é estado terminal. 

"Mas você precisa aprender a se controlar!" dizem.

Ora essa, se todos que sofrem de ansiedade soubessem se controlar, coitada da indústria farmacêutica. Dos psiquiatras. E, nossa, que maravilha seria para nós, os protagonistas dessa história toda. Se fosse simples assim, a autora ansiosa desse blog que vos fala sequer teria pensado em criá-lo. 

Desespero. Você luta contra ele. Você quer pensar em outra coisa. Você quer fugir dos seus pensamentos, mas eles são obsessivos. Eles são compulsivos. E você não consegue se desvencilhar. Você sente uma inexplicável vontade de continuar pensando a mesma coisa, é algo autodestrutivo. Você sabe que isso te faz mal, mas você insiste. Insiste porque todo o seu momento depende disso: agarrar-se a esse desespero até chegar ao limite do seu cansaço, ao clímax da ansiedade. 

Com o tempo e o tratamento certo, isso passa a ser mais raro. No entanto, quando ocorre, é como uma avalanche desavisada. Você fica destruído por dentro, não consegue enxergar, respirar, andar, fazer nada além de dedicar-se a essa obsessão. Pudera. É isso que alimenta a ansiedade. E a ansiedade é o que te alimenta.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

A Persistência da Memória





Como bem ilustrou Salvador Dali, nós somos uma mera distração do tempo, um brinquedo das horas. E, quanto mais insistimos em desafiá-lo, mais perdemos tempo. Quando queremos que o tempo passe logo, ele é um conta-gotas. Quando queremos o oposto, sequer há tempo para notar que passou. 

Mas o tempo é um inimigo do ansioso. Porque o ansioso, ao mesmo tempo que não tem paciência nenhuma, quer que tudo seja para ontem, ele quer que o tempo fique estagnado, para que não tenha que lidar com os problemas que podem surgir. Essa contradição faz parte da ansiedade e da depressão. Ao mesmo tempo que não há gosto pela vida, há um medo obsessivo da morte. 

Insistimos nos mesmos pensamentos, nas mesmas coisas que nos atormentam. Pensar, repensar, lembrar e relembrar são coisas feitas incessantemente pelos ansiosos. Pensar essas coisas que pioram nossa situação é como um alimento ao cérebro, ele pede isso e, se não o alimentamos, parece que falta uma parte de tortura diária à qual nos submetemos grande parte da nossa vida. O corpo pede essa tortura, como se esses pensamentos repetidos fossem uma parte essencial do cérebro, que não consegue funcionar se algumas coisas não forem feitas ou pensadas, ainda que sejam prejudiciais.

A ansiedade é uma droga mais forte do que qualquer ansiolítico. O ansiolítico mexe com a serotonina, com os nervos, estômago, com a nossa percepção, é fato. Mas e a ansiedade faz o quê? Tudo isso sem precisar de um único comprimido. E é mais viciante do que qualquer benzodiazepínico. Porque, muito embora nos faça mal, não conseguimos nos desvencilhar.

Estar ansioso é como colocar os dois pés em uma areia movediça e, à medida que está afundando e tenta voltar ao topo, sente um mórbido prazer em se afundar mais e sentir a lama cobrindo os pés, o corpo e, muito em breve, a cabeça.

Por isso, não basta unicamente estar ciente de que se é ansioso. Porque a ansiedade é um vício. Ela nos toma por completo e controla todas as nossas ações. Ela existe e persiste, como o tempo. É algo que achamos que controlamos, mas não poderíamos estar mais enganados, não é mesmo?

Estar ciente é o primeiro passo. O segundo é fazer algo a respeito. Psicólogo? Terapeuta? Psiquiatra? Todos eles? Quem sabe, o que ajudar melhor. O que não pode é ceder ao vício da ansiedade. Parar de tomar o remédio antes de melhorar, ceder à ansiedade e não à voz do Psicólogo, apegar-se a essa substância viciante obsessiva, agarrar-se à areia que cobre seu corpo, em vez de buscar a superfície. 

A ansiedade nos domina não só porque é algo sobre o qual não temos controle. Ela é algo sobre o qual não temos controle porque está dentro de nós e nós nos apegamos a ela, nós necessitamos dela, nós fazemos dela parte essencial, nós damos a atenção que não merece.

Para emergir não é necessário apenas consciência. É necessário consciência em movimento. Eu sei que tenho que subir. Eu sei que tenho que subir e vou fazer algo a respeito: vou subir, mas sem olhar para baixo.