quinta-feira, 21 de abril de 2016

Luz no fim do túnel



Há exatamente um ano, estava em crise. Na emenda do feriado de Tiradentes, há exatamente um ano, eu fui ao hospital 3 vezes. Os sintomas eram os mesmos de sempre. Muita falta de ar, visão turva, tontura, dores nas pernas e articulações, pernas travadas ao andar, pontadas pelo corpo, dormências. Eu praticamente tinha meu diagnóstico pronto. Pelo Google. 
Por trabalhar muito com material de Medicina, acabava por achar que sabia de tudo. Oras, quanta pretensão, achar que posso me autodiagnosticar, enquanto médicos estudam por uma década para poder exercer a profissão. Mas fazia mais sentido meu autodiagnóstico, do que o diagnóstico de todos os médicos em que fui. Há um ano começava a minha saga, que durou mais ou menos seis meses. Tive sorte. Tive sorte porque muitas pessoas estão há anos empacadas, sem conseguirem sair do lugar.
Eu ainda tenho crises. Outro dia mesmo, fiquei com muita falta de ar no meio da noite, acordei porque tive um pesadelo e fiquei extremamente ansiosa. Às vezes, no meio do dia, sinto braços ou pernas dormentes, já penso o pior, tento me acalmar até que tudo volte ao normal. É mais simples quando se está medicado com a dose máxima de duas drogas psicotrópicas. 
Demora um pouco até assumirmos que precisamos de ajuda psiquiátrica, o importante é não ter resistência, o importante é permitir a cura. Sua mente controla seu corpo, portanto você deve controlá-la. Parece simples. Mas não é. Não é nem um pouco simples. Mas o começo precisa existir. O primeiro passo é o mais importante de todos, mas igualmente importante são os próximos, tantos passos. A caminhada é muito longa e não se pode desistir logo de início. 

O remédio tem me causado delírios. Antes de dormir, ainda acordada, falo coisas sem sentido que não me lembro no dia seguinte. Se isso me dá medo? Muito. Mas tenho que lidar com os possíveis efeitos. Nenhum medicamento é isento de efeitos e cada pessoa reage de uma forma. Eu prefiro lidar com esses efeitos a lidar com o terror de um ano atrás. Um túnel escuro, mas dessa vez sem luz, como naqueles sonhos em que estamos de olhos fechados e não conseguimos enxergar ao nosso redor.
A sensação, por vezes, é como morrer internamente. Um vazio que não é preenchido com nada. Nem mesmo as coisas que você mais gosta. É um lugar onde muitos estão sem conseguir sair. É um lugar do qual estou saindo aos poucos, às vezes escorrego e dou um passo para trás, mas tento sempre seguir em frente. Sei que basta uma queda para que eu perca muito da minha evolução. No entanto, meu repúdio e meu medo de voltar ao que era são tão grandes, que eu luto com todas as minhas forças para me manter de pé. 

Não sinto que estou perto da luz, mas eu a vejo. Já consigo respirar. Quando fecho os olhos e volto para 21 de abril de 2015, sinto sufocar, como se uma sacola plástica estivesse colocada em minha cabeça, como se estivesse mergulhada em um lago coberto por gelo e eu não conseguisse voltar à superfície.