terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Terceiro relato anônimo



Acho que eu já tinha crises de Ansiedade desde criança e não sabia exatamente o que era. Lembro de algumas vezes em que dormi no sofá e, quando meus pais me acordavam pra ir pra cama, eu sentir uma tremedeira, moleza nas pernas, coração disparado e vontade de sair correndo. Sair dali e ir a um lugar que estivesse no tempo e espaço para relaxar minhas pernas adormecidas.
A Ciência explica que a ansiedade nada mais é do que um estado natural do corpo. E, como quase tudo que ainda nos é intrínseco, herdamos da época das cavernas. Afinal, taquicardia nada mais é do que o coração bombeando mais sangue para as suas extremidades (lembra da tremedeira nas pernas?), e o suor já antecipam o resfriamento do nosso corpo quente de tanto esforço físico. Naquela época, corríamos de predadores, saíamos na porrada com outros homens, fugíamos de desastres naturais. Hoje, vivemos em uma selva, diferente e igual em muitos aspectos. E a Ansiedade aparece, deste jeitinho sorrateiro, o que faz com que ela tenha nome de gente pra mim, com primeira letra maiúscula e personalidade. Tem vezes que ela dá sinais que vai aparecer e noutras surge de supetão. 
Já cheguei a sentar na calçada durante uma crise de Ansiedade em público e ter de esperar passar. Já fingi que estava tudo bem, respirei fundo e voltei a trabalhar (porque Ansiedade, psicólogo e psiquiatra "são coisas de gente louca"). Já desembestei a comer três sorvetes, duas barras de chocolate e um litro de achocolatado em menos de cinco minutos. Mas, apesar de tudo isso, já procurei relaxar muitas utras tantas e esperei passar. Porque a gente sabe que ela vai embora. 
Nunca fui a psiquiatras. Nem na época da depressão forte. Quis atingir meu limite e tentar sair por conta própria. Me testei, descobri que o fundo do poço tem subsolo e que dali de dentro, só tem um jeito de sair: voltando à superfície. Descobri a razão da minha depressão; já a da minha Ansiedade estou esperando a resposta até hoje. 
Mas a vida segue, independente de tantos apesares. 'Rabbit Hole', escrito por David Lindsay-Abaire, me ensinou que as mazelas da vida são como tijolos que a gente leva nos bolsos: pesam, uns dias mais e noutros menos, mas não nos impedem de continuar a caminhada. 
Somos uma geração ansiosa, onde a pressão para ter sucesso em todas as áreas da vida é muito forte: carreira, família, vida amorosa, amigos, aparência, inteligência e ________________ (adicione a sua 'preferida' aqui). 
Para tratar minhas crises, então, recorri à Passiflora. Amigos já disseram que "nem me fez cócegas de tão fraco", enquanto outros agradeceram a dica. Fitoterápica, de baixíssimo custo e, no meu caso, resolveu. Três comprimidos ao dia e, conforme as crises foram diminuindo no decorrer das semanas, também foram reduzidas as doses. Hoje em dia - e isso já faz uns três anos - as crises são raríssimas. Talvez duas ou três ao ano. E geralmente dão sinais, então sempre tenho Passiflora aqui pra já expulsar a Ansiedade quando ela toca no meu interfone. Porém, acho super válido ir atrás de ajuda profissional se você ainda não encontrou sua calmaria. 
Certo dia, um amigo me disse que cerca de 30% do que acontece na vida permite nossa intervenção. Os outros 70%, diz ele, "a gente joga pro Universo". Tomei como lema. Faço a minha parte e deixo o resto fluir. 
A vida segue. E o tempo, maturidade e experiência fazem o que lhes cabem para que possamos viver toda essa loucura com o mínimo de sanidade.  

L.F., sexo masculino.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Diário da ansiosa – Andamento do tratamento


Desde o retorno ao psiquiatra não falo do meu progresso. Correria, pouco tempo, muito trabalho, enfim, seguem algumas considerações:

- As pontadas no corpo desapareceram, dormências e sensações de queimação nos pés e nas mãos também passaram (as chamadas parestesias). 
- As moscas volantes estão aqui ainda, mas estão mais raras, não as vejo o dia todo mais. Vejo somente quando há muita claridade e, ainda assim, não é sempre. 
- As tonturas melhoraram. Não posso dizer que sumiram de vez, porque vez ou outra, me pego flutuando por aí. Acredito ser efeito da minha hipoglicemia, porque acontece geralmente quando estou há um tempo sem comer. 
- As dores nas pernas, a perna puxando, também sumiram. De vez em quando sinto algo, mas acredito ser efeito da carga intensa de exercícios que faço diariamente.
- A falta de ar não está presente na maior parte do tempo. Ela aparece mais quando deito para dormir e começo a pensar a existência do universo.
- TOC e pensamentos obsessivos: quase zerados. Ainda continuo obcecada por limpeza, mas tenho tido momentos racionais e de muita lucidez, rs.
- Um pouco de insônia durante à noite, pesadelos continuam. Comprei o tal filtro dos sonhos para ver se melhorava, melhorou bem pouco. Talvez seja psicológica a melhora.
- Sono, MUITO sono durante o dia. Mesmo tendo dormido durante à noite. Sono de dormir em pé. Não é uma leve sonolência, é quase uma narcolepsia. Não me sinto cansada, consigo fazer mil coisas durante o dia, mas esse sono... Esse sono eu não tinha na minha época ansiosa, então acredito ser efeito do remédio mesmo. Na bula consta "sonolência". Mas entenda como "não conseguir ficar acordada de pé de manhã no metrô".

Hoje tenho retorno no Endocrinologista. Ele vai pedir exames novamente para ver se o remédio alterou alguma coisa e se minha vitamina D voltou ao normal, checar minha glicemia etc. Vou pedir um encaminhamento para a nutricionista, agora que entrei na linha, estou pronta para minha dieta para hiperinsulinêmicos HARD. (Mas sem Glucerna, por favor) – depois explico aqui o que é o tal do Glucerna.

O remédio só tem feito coisas boas por mim, apesar dos efeitos colaterais, que agora estão mínimos. Acredito ter que tomar por uns seis meses e fazer redução gradativa da dose. O Buspirona causa dependência zero. O escitalopram causa alguns efeitos no desmame, os mesmos que apresentamos quando começamos a tomar. Mas não estou preocupada ou desesperada.

O meu pessimismo, apesar de sempre presente, também diminuiu. Mas a ansiedade diante de circunstâncias e eventos ainda é ENORME. Dessas incontroláveis de roer unha, osso, tendões... Acho que essa mesmo não tem cura, apesar de exercermos um certo "controle". Controle entre aspas mesmo, porque só aparentamos estar controlados, quando, na realidade, estamos em enlouquecidos por dentro.

Vou pedir uma guia para consulta com Psicólogo. Quero ver se com a terapia, futuramente, o desmame do remédio fica mais fácil.

Meu conselho para quem tem ansiedade: nenhum. Quem tem ansiedade não ouve conselho. Se ouve, é momentaneamente, logo o TOC faz os pensamentos obsessivos voltarem. Mas se pudesse falaria: não se desespere, tudo, tudo vai passar. :o)

Beijos e até a próxima!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A nossa mudança é intrínseca

Sumi por conta de trabalho e mais trabalho, pensei em mil coisas, mas decidi começar por esta: o autoconhecimento.


O processo de autoconhecimento é interminável, mas é necessário que tenhamos essa consciência. Conhecer a si mesmo e seu próprio corpo é essencial para a melhora progressiva de doenças psicológicas, transtornos mentais e afins. A verdade é que, embora o exterior contribua para nossa melhora ou piora, somente nós mesmos podemos melhorar efetivamente. Porque é através do nosso interior que enxergamos o mundo e a ele damos nossa impressão. O primeiro passo para a melhora é tentar, aos poucos, tornar-se independente do exterior, do que ocorre a você, das pessoas que te cercam. Tornar-se independente não significa tornar-se insensível. Significa ser feliz apesar de, sem depender de um fato específico, uma palavra, um ato, um acontecimento. E isso só alcançamos quando atingirmos a plenitude dentro de nós mesmos. Isso não significa que ficaremos blindados a fatos externos, mas que saberemos lidar muito melhor com as adversidades. 
Uma prova de que a nossa mudança é intrínseca é como as coisas que mais gostamos ficam sem graça quando temos depressão. As pessoas, que usualmente são apegadas a circunstâncias e coisas, sugerem que saiamos, encontremos alguém para nos relacionarmos, façamos algo que gostemos, mas não é simples assim. Não é simples porque o processo é interno e não externo e, a partir do processo de conhecimento, começamos a entender que a mudança depende de nós mesmos. E, sendo assim, o exterior só irá ser uma soma ao conhecimento, sem fazer com que pioremos de forma drástica. 
Quem tem depressão e já ouviu ou leu coisas do tipo: "É frescura!", "Mas você tem tudo", "O que te falta?" e, na sede de preencher essas lacunas, as pessoas jogam mais coisas nas nossas costas: um relacionamento, um emprego, um filho, um casamento, uma mudança de visual. Coisas que elas consideram imprescindíveis para a felicidade mas que nada são se estivermos mal por dentro. Então, a primeira coisa que devemos tomar consciência é de que é necessário tentar nos conhecermos, é necessária uma constante evolução, porque não existe um ponto final: pronto, cheguei aqui e agora sou 100%, porque ninguém é 100%. É uma busca incessante, muitas vezes dolorosa, mas extremamente necessária. 
Terapia é uma boa opção, caso você se sinta muito confuso. Ajuda é sempre bem-vinda. 
Muitas vezes as pessoas falam coisas que nos afetam de forma profunda e às vezes nem sabemos por quê. Essas coisas levam ao agravamento da depressão, da ansiedade e de outros transtornos. Ao nos conhecermos melhor, esse obstáculo é ultrapassado com mais facilidade, porque conhecimento leva à segurança, à perda do medo. 
Não deixe que fatores externos interfiram negativamente no seu interior, confie em você. Sempre.